sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Altruísta Ou Não...


Não sei se é ruindade da minha parte, egoísmo ou coisa do gênero, mas meu amor não é tão altruísta quanto o amor dos outros.
Eu dificilmente – para não dizer ‘nunca’ – falaria a famosa frase “o que me importa é a felicidade dele. Mesmo que essa felicidade não seja ao meu lado”.
Pode até ser falta de maturidade, e quando o assunto sou eu, esta hipótese nunca pode ser descartada, mas quando gosto de alguém, é porque quero que essa pessoa seja minha, e a menor proximidade com possíveis adversárias (leia-se: garotas lindas e simpáticas) me tira do sério. Meus sentimentos podem não ser de conhecimento geral, mas ainda assim tenho a ilusão de que eles deveriam ser levados em conta antes de qualquer aproximação do tipo já mencionado.
Aliás, acho que todas as garotas (falo só pelo sexo feminino… meus amigos homens são muito, ãh, reservados nesse ponto) já sentiram aquele desconforto começando lá na barriga, e que vai subindo aos poucos. Passa pelo estômago, sobe com aquele aperto, e finalmente chega no peito, no meio dele, transformado em uma terrível e amarga… raiva. Tudo isso por causa de uma inocente conversa daquele cara maravilhoso com uma amiga mais próxima.
Seria lindo dizer que gosto tanto de uma pessoa a ponto de colocar a felicidade dela à frente da minha. Lindo, mas uma enorme mentira.
Sinceramente acho que, no fundo, nenhum amor é desapegado. Se pensamos na pessoa, choramos por ela, se faríamos de tudo para tê-la por perto, é porque gostaríamos que ela fossa nossa. Não de outra pessoa qualquer. Amor desapegado não é amor; é um simples carinho pela pessoa, uma amizade, uma boa, ótima amizade.
Mas no meu caso, nem as amizades escapam do meu ciúme. Só que isso já é assunto para outro texto.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Segredos, Conflitos e Amor - Cap. 27


            Naquela tarde, ainda na escola, o celular de Calina tocou. Ela não pode evitar ficar um pouco surpresa com o nome que aparecia na tela: Maria Ishii.
            — Alô?
            — Nossa, que frieza com a sua melhor amiga! — “eu que o diga!” Calina pensou — Ca, eu PRECISO que você venha pra minha casa AGORA! Eu tenho uma coisa muito, muito boa pra te mostrar!
            — Que coisa?!
            — Lembra daquele livro que a gente não achava em lugar nenhum pra comprar?
            — Não me diga que…
            — Aham!
            — Já to indo!
            Enquanto colocava os cadernos na mochila com pressa, Calina pensava se realmente deveria ir até a casa de Maria. Ela queria muito ver o livro que tanto procuraram, mas seria estranho chegar lá e fingir que nada tinha acontecido, sabendo que não tinha poupado a amiga de várias críticas nas últimas conversas que teve com Alice. De qualquer forma, colocou a mochila nas costas e disparou para fora da escola. Parada no portão, tocou a campainha e segundos depois Maria apareceu saltitante.
            — Pode ir entrando, ta lá em cima da minha cama!
            Como já era “da casa”, Calina jogou a mochila no sofá e foi correndo até o quarto da amiga. E, em cima da cama, estava a preciosidade, ainda com o cheiro de tinta fresca, a capa brilhante, as letras douradas em alto relevo reluzindo sob a luz do sol que entrava pela janela. Um sonho não seria tão bom.
            — Onde você achou?!
            — No shopping, tinham acabado de receber. Dei sorte. E o melhor de tudo…
            Maria levantou a capa, com tanto cuidado que parecia estar abrindo um livro de duzentos anos. Logo na primeira página, bem grande em tinta de esferográfica preta estava o autógrafo da autora, que, aliás, era inglesa. Embaixo de seu nome, uma pequena dedicatória, bem genérica: “for a very special, Brazilian, fan…”.
            Um arrepio subiu pela espinha de Calina.
            — Não é de verdade, né? Isso aí veio impresso da gráfica, ela não encostou nesse livro…
            — Sim, é de verdade; não, não veio impresso da gráfica; sim, ela mesma autografou! Quando soube o sucesso do livro aqui, ela fez questão de autografar 100 exemplares. Não é tão exclusivo, mas um deles ta aqui, comigo!
            As duas gritavam, histéricas. Por sorte, não tinha mais ninguém na casa.
            — Mas deve ter sido uma fortuna!
            — Ah, nem foi tão caro. Mesmo com o autógrafo, saiu pelo mesmo preço de um normal. E os elogios dos professores na última reunião deram uma ajudinha também.
            Calina, que estava de joelhos ao lado da cama, se levantou como se tivesse levado um susto, deixando Maria de olhos arregalados. Aquela frase era a única coisa que faltava para Calina lembrar de tudo o que Alice tinha falado nos últimos tempos.
            — Você ta bem, Ca? O que aconteceu?
            — Quer saber o que aconteceu Maria? Cansei. Cansei de viver na sua sombra.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Como Eu Vejo O Amor


Amor não se explica, se sente.
Amor, amor mesmo, dá falta de ar, frio na barriga, tremedeira, faz você rir, chorar rios de lágrimas e te dá uma alegria que mais ninguém, mais nada, pode te dar.
Amor faz você perder o fôlego e o juízo.
Amor, aquele a gente fala que é de verdade, te cega para as loucuras que você faz por ele. Pular de paraquedas é fichinha perto de muitas delas.
Amor não esfria nem acaba.
Amor, do tipo que faz um arrepio subir pela espinha, não importa se por medo ou alegria, te acompanha até o fim da sua vida, na alegria e na tristeza, que é quando você tira dele inspiração.
Amor não começa. É percebido.
Amor, o que te dá ódio de vez em quando, já nasce com você, é o destino, você acreditando nele ou não. Um dia você vai encontrar esse amor e vai saber logo de cara que nasceu para encontrar com ele.
Amor é ciumento, é protetor.
Amor, do que te dá um aperto na boca do estômago, faz você não suportar ver o amado perto de quem te irrita, faz você sofrer pelas derrotas dele, até mais do que ele próprio.
Amor não faz distinção.
Amor, aquele que dizem que “é outra coisa”, não quer saber se você ama homem, mulher, um baixinho ou uma gorducha. Você pode amar um livro, filme, música, personagem, seu ídolo, qualquer coisa. Mas é amor.
Amor é tudo o que dizem que é.
Amor te faz arder em chamas, te deixa feliz, saltitante, faz você perder a articulação das palavras, te deixa imóvel. Isso não é combustão instantânea, Prozac, Pogobol, AVC, trânsito de São Paulo. É só amor.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Segredos, Conflitos e Amor - Cap. 26


            — Longe…? Termina a frase.
            — Longe das amigas, é claro! Agora chega de papo, vamos entrar no ônibus logo. Não quero me atrasar.
            Aquele fim de semana passou, vieram outros, e ao longo de três semanas Alice se ocupou de envenenar Calina contra Maria, que continuava se aproximando cada vez mais de Rafael. E Sasha não gostava nada disso. Não gostava de perceber que Maria não conversava mais com ele nem com Calina como antes, que a única pessoa para quem ligava era Rafael. E odiava ver Alice conversando com Calina porque tinha certeza de que a Princesinha do Gelo não tinha de bom para falar, de nada nem de ninguém. Mas da última vez em que tentou conversar com Calina sobre isso foi chamado de enxerido. Então não disse mais nada.
            — Eu vi o Sasha te olhando hoje, com aquele jeito de desconfiado de novo. O que será que ele acha que você ta fazendo comigo? Lavagem cerebral? Parece que ele não percebe que eu sou grandinha o suficiente pra me cuidar.
            — Calina, entende o seguinte: o Sasha acha que pode mandar em você e… na Maria. Bem, eu sei que a Maria realmente precisa que alguém diga a ela o que fazer sempre, mas você? Ah, olha eu falando mal da sua amiga de novo…
            — Esquece, já to acostumada com algumas características dela. Essa aí, por exemplo.
            Sentada em uma das mesas da cantina, Calina olhou para atrás, na direção de Maria, que estava na fila da cantina. Com Rafael. Sempre ele. Por dentro, ela riu. Se lembrou de quando o próprio Rafael disse essas mesmas palavras se referindo a Sasha. Ela mal podia acreditar que em tão pouco tempo, em meras três semanas, Maria tinha virado uma completa estranha.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A Carta Perdida

Sei que faz muito, muito tempo que não posto, mas mesmo que quisesse, eu não conseguiria... tive pequenos "problemas técnicos"! Para compensar, essa aqui é um pouco maior do que de costume:



Domingo de manhã, céu azul, sol brilhando, nenhuma nuvem que anunciasse chuva. Dia perfeito para… fazer faxina. Danilo, de bermudão e camiseta surrada, decidiu criar coragem para abrir a porta do quartinho da bagunça, que acumulava cacarecos desde que ele se conhecia por gente. Era até difícil ter uma noção do que estaria ali dentro.
            A porta, que pela graça de Deus abria para fora do cômodo (caso contrário, seria impossível entrar), era pesada e vedava bem o quarto. Tanto que o cheiro de mofo que o ar úmido tinha lá dentro era imperceptível do lado de fora. Quantas vezes Danilo viu a mãe entrar no ‘cemitério das tralhas ’ para guardar brinquedos fora de uso, procurar livros que ela preservava há anos e sair com a blusa por cima do nariz, fazendo cara de nojo e reclamando da falta de luz e ventilação… a frase que vinha depois disso era sempre a mesma: ‘Eugênio, trate de dar um jeito nisso aqui!’. E apontava para a porta já fechada. Dona Lucinda foi embora deste mundo sem ter tido o gosto de ver o quartinho arrumado. Seu Eugênio, também falecido, sempre se negava a empreender uma aventura para fazer a vontade da esposa.
            A tarefa de acabar com a bagunça ficou para Danilo, que, sendo filho único, herdou a casa onde passou grande parte da vida. Cada cantinho tinha uma boa memória atrelada a ele. Mas todas relacionadas com Dona Lucinda. Danilo nunca se deu bem com o pai, um homem frio, que não conversava com o filho, não o elogiava, nervoso por natureza e que destratava filho e mulher, mas era todo sorrisos com amigos e vizinhos. A raiva de Danilo crescia junto com os vexames que Seu Eugênio fazia a família passar.
            Para esquecer aquilo, Danilo chacoalhou a cabeça, botou um sorriso no rosto e pensou nas feições bondosas da mãe. ‘Pode ficar tranquila, mamãe. Eu dou um jeito nisso aqui. ’
            O ar pesado e frio saiu assobiando pela porta enquanto Danilo tateava a parede em busca do interruptor. Ouviu-se um clique e uma luz amarelada, fraquinha, surgiu no meio do teto. A desordem era assustadora: duas cômodas, um armário, uma poltrona com o estofamento saindo por inúmeros buracos, abajures, caixas, caixas, caixas. Algumas roupas velhas nas gavetas das cômodas e livros que pareciam não acabar mais nas estantes do armário. Tudo era tão nostálgico que Danilo não resistia a examinar minuciosamente tudo o que pegava. Lia cada revista em quadrinho, folheava todos os cadernos da época de escola e aproveitava para xeretar em alguns cadernos que os pais usaram na faculdade, mas que ele nunca conseguiu consultar. Um dos primeiros cadernos que tirou da estante foi o do pai. Olhou por uns poucos instantes, indisposto a abri-lo, mas a curiosidade foi maior do que o rancor. Começou a percorrer suas páginas, começando pela parte de trás, e algo chamou sua atenção: uma folha completamente preenchida por uma letra espaçosa, sem muita personalidade. Danilo reconheceu a caligrafia de Seu Eugênio e começou a ler.
           
            “ 8 de setembro, 1974
            Meu filho,
            Ainda não te conheço e não sei se ao invés de filho, deveria ter escrito ‘filha’. Ainda não te peguei no colo, olhei bem no fundo de seus olhinhos e te achei a criaturinha mais linda do mundo. Ainda não acordei no meio da madrugada para te atender, trocar sua fralda, te dar mamadeira ou simplesmente te apoiar em meu ombro para você saber que tudo está bem, que seu pai está com você. Ainda não te conheço pelo nome. Talvez você se chame André, talvez Maria, Rodrigo, Regina, Cíntia, Danilo… isso, um nome muito bonito esse. Danilo.
            Por enquanto sou apenas um rapaz terminando a faculdade, namorando uma moça linda que espero que um dia você chame de mamãe. A Lucinda é muito boa moça, parece que será uma ótima mãe.
            Estou escrevendo esta carta apenas na esperança de um dia poder lê-la para você e rirmos juntos das minhas bobagens, minha ingenuidade ou quem sabe de felizes coincidências. Peço perdão antecipadamente por possíveis erros de português!
            Eu me pergunto se sairemos juntos para andar de bicicleta, empinar pipas, se iremos a parques num domingo ensolarado com céu azul, um domingo igual àqueles que as pessoas aproveitam para fazer faxina! Será que lerei historinhas para você dormir? Acho que não… essa tarefa ficará para sua mãe, não leio muito bem. Mas posso brincar de herói com você, te levantar para fazer você voar ou me passar por um monstro gigante. Não sei explicar por que, mas tenho quase certeza de que você será um menino.
            Enfim, me pergunto se farei com você tudo aquilo que meu pai não fez comigo. Velho ranzinza, ele. Espero não ser como ele foi, ninguém merece um trauma tão grande. Ele não era muito chegado em conversas, sabe? Sempre que eu sentava do lado dele no sofá, ele levantava e ia para outro cômodo. Eu quero conversar com você, ouvir como foi seu dia, te dar conselhos de gente mais velha. Quero que você saiba o que é esse pequeno prazer da vida. Mas não reclamo muito, tudo tem lado bom: quando ele morreu, dois anos atrás, foi mais fácil me conformar com a perda, coisa que não vai acontecer quando minha mãe for fazer companhia para ele.
            Como não posso prever o futuro, peço perdão novamente, mas desta vez de joelhos. Talvez a maldita genética me deixe parecido com seu avô e tudo o que escrevi nesta carta não se concretize. Talvez isso me mate por dentro e todo o carinho que já sinto por você fique enterrado em um cantinho muito escondido de mim. Talvez nem eu mesmo perceba no que me transformei.
Ou, a pior de todas as hipóteses, talvez você chegue a sentir por mim a mesma raiva que eu sentia pelo meu pai.
            Mas espero, do fundo do coração, que isso nunca aconteça. Quero que nossa família seja feliz.
            Me despeço por ora. Até daqui alguns anos.
                                                                                                          Papai”