domingo, 16 de setembro de 2012

Segredos, Conflitos e Amor - Cap. 28


            — O quê? Viver na minha sombra? Como assim, Calina?
            — Para de se fazer de desentendida! Antes eu não percebia, mas abriram… abri meus olhos. O que realmente acontece é que do seu lado eu não sou nada; minhas qualidades, se é que ainda tenho alguma depois de tanto tempo perto de você, viram pó. — os olhos da garota começaram a marejar — Você é mais inteligente, mais bonita, chama mais atenção não só dos meninos, de todo mundo. Você tem amigos de verdade, melhores do que eu, por isso não precisa de mim por perto, mas minha presença faz você parecer tão melhor que você acaba me aguentando. Você é a queridinha dos professores. A queridinha de todo mundo naquela sala pra falar a verdade. E, é claro, tem muito mais sorte. E não percebe.
            A essa altura, as duas estavam chorando. Calina se encostou na parede e foi escorregando até o chão, onde se sentou e esticou as pernas e braços, ficando como uma boneca de pano jogada em um canto. Maria cobria a boca e o nariz com as mãos, com um imenso aperto no coração, sem saber o que fazer. Evitando olhar para ela, Calina continuou falando, com a voz arrastada.
            — Dois dos caras mais perfeitos que eu já conheci gostam de você, que mesmo sendo tão inteligente, é incapaz de perceber. — ela enfatizava algumas palavras batendo com a mão espalmada no chão — Que ironia, né? Ainda mais por eles serem o Sasha e o Rafael, que vivem do seu lado.
            — Chega! Chega! Não agüento mais ouvir tanta loucura! Você é minha amiga, mas não sou obrigada a escutar isso o que você ta falando! — ela apontava o indicador, firme, para Calina — Até porque é tudo mentira. Desde quando você vive na minha sombra, desde quando eu sou melhor que você?
            — Desde sempre…

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Para Você


E quando acho que encontrei alguém para chamar de “meu”, percebo que é a última pessoa que eu poderia ter.
Quando penso que me olha de forma diferente, alguma coisa me mostra que me vê apenas como parte do círculo de amizades.
Se me alegro por se interessar pelas coisas que digo, vejo que isso é apenas parte de sua índole.
Sempre que as conversas parecem fluir maravilhosamente, em algum momento tomam um rumo que me desagrada.
Tem tanta informação sobre você dentro da minha cabeça que às vezes parece que te conheço melhor que você mesmo.
Eu bem que queria poder dizer que a sua felicidade faz a minha, mas não dá. O cérebro tenta, mas o coração impede e a garganta fica sem saber o que fazer.
Minha vontade era de te detestar por seus defeitos – que, aliás, são muitos -, mas aí vem a razão metendo o bedelho onde não foi chamada. “Ele é tão humano quanto você. É óbvio que tem defeitos!”
Eu ignoraria todas as bandas que você vive ouvindo. Se não fossem minhas favoritas.
Eu queimaria todos os livros que tenho e sei que você lê, se não fizessem parte da minha inestimável coleção.
Eu deixaria o celular tocar indefinidamente quando você liga, se minhas mãos não fossem muito mais rápidas do que meu bom senso.
Eu não escreveria nenhuma dessas frases ridículas, se pudesse dizê-las diretamente a você.