— O quê? Viver na minha sombra? Como
assim, Calina?
— Para de se fazer de desentendida!
Antes eu não percebia, mas abriram… abri meus olhos. O que realmente acontece é
que do seu lado eu não sou nada; minhas qualidades, se é que ainda tenho alguma
depois de tanto tempo perto de você, viram pó. — os olhos da garota começaram a
marejar — Você é mais inteligente, mais bonita, chama mais atenção não só dos
meninos, de todo mundo. Você tem amigos de verdade, melhores do que eu, por
isso não precisa de mim por perto, mas minha presença faz você parecer tão
melhor que você acaba me aguentando. Você é a queridinha dos professores. A queridinha
de todo mundo naquela sala pra falar a verdade. E, é claro, tem muito mais
sorte. E não percebe.
A essa altura, as duas estavam
chorando. Calina se encostou na parede e foi escorregando até o chão, onde se
sentou e esticou as pernas e braços, ficando como uma boneca de pano jogada em
um canto. Maria cobria a boca e o nariz com as mãos, com um imenso aperto no
coração, sem saber o que fazer. Evitando olhar para ela, Calina continuou
falando, com a voz arrastada.
— Dois dos caras mais perfeitos que eu já conheci gostam
de você, que mesmo sendo tão inteligente, é incapaz de perceber. — ela
enfatizava algumas palavras batendo com a mão espalmada no chão — Que ironia,
né? Ainda mais por eles serem o Sasha e o Rafael, que vivem do seu lado.
— Chega! Chega! Não agüento mais ouvir tanta loucura!
Você é minha amiga, mas não sou obrigada a escutar isso o que você ta falando!
— ela apontava o indicador, firme, para Calina — Até porque é tudo mentira.
Desde quando você vive na minha sombra, desde quando eu sou melhor que você?
— Desde sempre…