De vez em quando tenho o péssimo hábito de parar no meio da
aula e ficar observando meus amigos e colegas. Ultimamente, isso tem sido
realmente interessantes. O que vou dizer pode parecer manjado, mas para mim chega
a ser divertido.
Antes de expor meu divertimento, preciso fazer uma introdução:
me lembro perfeitamente da época da minha pré-escola até a quarta, quinta série,
quando eu admirava os alunos mais velhos. Eles pareciam independentes, cheios
de responsabilidades, inteligentes. Eu sempre os via com montes de cadernos,
livros, vestindo roupas “descoladas”, sendo espontâneos, sorrindo, sendo
jovens. Não somente eu, mas todos os meus colegas, mal podíamos esperar para
crescer e ser como eles.
Hoje temos entre 16 e 17 anos, mas não mantive contato com
nenhum amigo do pré, apenas converso com alguns que conheci quando mudei de
escola.
Enfim, agora somos adolescentes, agora nós somos admirados
por crianças, exatamente como fazíamos dez anos atrás.
Mas o que acho engraçado é olhar para aquelas pessoas que
conheci quando só pensávamos que éramos gente e ver que a infância já passou há
muito tempo, que sobraram míseros resquícios dela em alguns atos nossos, nada
mais. As meninas que brincavam de Barbie já as jogaram em um canto qualquer, junto
com os velhos diários, e hoje têm corpos e feições de mulheres feitas. A maquiagem
toda borrada, surrupiada da nécessaire da mãe, agora é bem feita, quase item
obrigatório nos rostos adolescentes. Os garotos deixaram de ter corpos mirrados
para se transformarem em postes falantes. Também já são homens, não têm mais a
antiga voz fina e não veem mais as garotas como alienígenas desprezíveis, muito
pelo contrário. A cortina de ferro que separava “eles” para um lado e “elas”
para outro desapareceu, deu lugar a amizades fortes em muitos casos.
E quando vejo essa mudança toda me pergunto se veremos mais
mudanças uns nos outros, não só físicas. Sei que é quase impossível não me
distanciar de algumas pessoas, mas eu gostaria de ver o rumo que as vidas de
meus amigos mais próximos vão tomar. Pode ser o convencional pacote “namoro,
casamento, filhos” ou algo mais alternativo, como “mudança para a Ucrânia”, “integrante
de uma banda mundialmente famosa”, “desenhista dos estúdios Disney (ou DC,
Marvel, qualquer um)”. Caminhos existem muitos, até mais do que os cabelos
brancos que veremos em nós.