— Eu quero sim, mas antes só umas
coisinhas: se você me acha feia ou bonita, não me importa, pelo menos eu não sou
falsa como você. E esse “pouquinho, mas muito pouquinho mesmo” de inteligência
me garante que eu não fique pensando só em maquiagem, garotos e roupinhas novas
de grife, que eu use meu cérebro pra coisas mais relevantes do que isso e que
eu não deixe a prova de Física em branco e depois fique dando piti na sala por
causa disso.
Maria mal terminou a frase e Alice,
já vermelha de ódio e bufando, lhe deu um tapa no rosto, que seria devolvido se
Rafael e Sasha não tivessem ficado entre as duas e empurrado cada uma para um
lado, com uma distância enorme entre elas.
— Rafa, por tudo o que é mais
sagrado, me deixa voltar lá e acabar com ela, me solta!
— Nem pensar, você fica aqui comigo
até se acalmar ou até a Alice ir embora.
Por mais que tentasse, Maria não
tinha força suficiente para fazer Rafael soltar seus pulsos. Ele tinha colocado
a garota com as costas contra a parede e estava na sua frente, exatamente para
evitar que ela escapasse. Depois de espernear muito, ela esvaziou os pulmões e
deixou os ombros caírem. E mesmo assim, Rafael continuava segurando-a firme.
— Posso saber o que foi aquilo
Alice?
— Vai perguntar pra Maria, quem
começou com a baixaria foi ela. Mas… por que você resolveu vir pro lado de cá,
ao invés de ir pra lá com a Dona Coisinha?
Sasha deu um suspiro de impaciência.
— Eu não resolvi nada, simplesmente
empurrei a primeira de vocês duas que entrou na minha frente.
— Tem certeza de que não tem nenhuma
preferência envolvida nisso? — o ar debochado dela deu lugar a um sorriso
maroto.
— Olha Alice, me esquece. Pode
fingir que não me conhece e nem bom dia precisa dizer, tudo bem? To indo
embora.
Sem pensar duas vezes, ele virou as
costas e saiu, inconformado com o que tinha visto e principalmente ouvido. Sua
indignação era tanta que nem se lembrou de perguntar se Maria iria embora com
ele.
— Pronto Rafa, a Alice já foi
embora. Posso ir também?
— Cadê o Sasha?
— Pra quê?
— Pra ele ir com você até sua casa,
tenho certeza de que tanto eu como ele queremos que você vá direto pra lá, sem
ir procurar ninguém.
— Ele já foi embora, acabei de ver…
deixa eu ir embora também…
Rafael olhou para os lados, como se
procurasse uma solução.
— Nesse caso eu vou com você e nem
pensa em reclamar.
Vamos.
Maria ficou emburrada e só abriu a
boca no portão de casa.
— Você é um chato, sabia?
— Um chato que te ama. — Essa frase
saiu sem querer, mas pareceu que Maria não percebeu o que realmente queria
dizer.