— Ei,
João!
Ele
continuou andando, fingindo não ter ouvido seu nome.
— Que é
isso, cara, anda logo, olha aqui!
Puxando
o capuz do moletom, ele apertou o passo.
— Quer
saber? Vai embora mesmo! Ninguém aqui precisa de você!
Tiago
deu meia volta e trancou o portão. João continuou subindo a rua, mas sem saber
para onde ia, porque àquela altura isso não tinha a mínima importância. Andava
olhando para o chão e chutava cada pedrinha que aparecia na sua frente como se
isso pudesse fazer sua raiva diminuir. Sua distração era tanta que nem percebeu
que Olívia vinha em sua direção.
— Ai! —
João levantou os olhos — Cuidado com essas pedras, seu… João?!
Ele
abaixou a cabeça de novo e voltou a andar, desviando de Olívia. Ela segurou seu
braço.
— Nem
pense em fugir de mim.
— Eu
não fujo. Só evito discussões. Principalmente com quem gosto.
— Não
quero discutir, quero conversar. Você não vai pra casa do Tiago?
—
Acabei de sair de lá.
— Ótimo
então. Vamos andar um pouco, que tal? Eu queria mesmo ir até o mercado comprar
um sorvete. Vem comigo?
—
Sorvete? Ta garoando e frio pra caramba.
— Eu
gosto de sorvete no inverno, e daí? Vem ou não?
Ela
estendeu a mão. Meio contrariado, ele aceitou o convite.
— E
então? Vai me contar o que aconteceu ou vou precisar te torturar?
— Não
enche.
—
Caramba, eu quero te ajudar, mas assim fica difícil! Por que vocês brigaram de
novo?
—
Vocês?
— Você
e o Tiago.
— Não
briguei com ele.
— Ele
brigou com você?
— Ele
deu mancada comigo.
— Que
novidade.
— Você
não leva nada a sério, né garota?
— E
desde quando ironia é piada? O que ele fez?
—
Contou. Pra todo mundo. Foi só eu sair da sala que ele abriu o bico.
Silêncio
fúnebre. Olívia improvisou um coque no cabelo molhado e arrumou a saia.
— Não
ta com frio?
— Não.
Antes molhar as pernas do que andar com uma calça encharcada. E o moletom seca
logo. Mas… como você sabe?
— Que
ele contou? Simples. Eu ouvi. Ele nunca conseguiu falar baixo, você sabe. E o
desgraçado ainda fez cara de paisagem quando eu voltei.
— E o
pessoal?
— Não
sabiam se riam ou se ficavam me olhando com aqueles olhões arregalados. Bando
de imprestáveis.
— Me
espera aqui, é rapidinho.
Olívia
pegou um picolé no refrigerador e comprou mais umas balinhas no caixa.
— Quer?
— Não.
— Nem
uma bala pra adoçar a vida? Eu diria que você ta precisando.
— To
precisando mesmo é de menos amigos idiotas.
— To
incluída aí?
— Nem.
Ta sujo aqui.
—
Valeu. — ela limpou o queixo — Quer se mudar comigo? Ir pra outra cidade,
estado, país, sei lá, sumir no mundo? Seria muito legal, hein? Que tal
Amsterdam?
Os dois
riram, mas pararam logo.
— Não
sei se abriria mão de tudo aqui. Ainda que fosse por Amsterdam.
— Nem
dos seus amigos idiotas?
—
Pensando bem… acho que muito menos deles.
João
riu pelo nariz.
— Acho
que vou lá na casa do Ti. Eles já tinham começado a assistir o filme?
— Não.
— Quer
vir comigo?
—
Também não.
—
Beleza. Recado?
— Manda
o Tiago… ah, você sabe.
— Sei
sim. Mas quem costuma fazer isso com ele é você.
João já
tinha virado as costas e começado a andar, ele levantou o dedo do meio e Olívia
ficou gargalhando, parada na rua enquanto a chuva engrossava.
— Tsc,
tsc… garotos…
Como é bom ter um grupinho tipo de dois ou três amigos, ainda mais quando mistura menino e menina, ai que se tem as melhores aventuras e qualquer coisa já gera grandes memórias.
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