domingo, 7 de julho de 2013

Aula de Inglês

Jana chegou cansada em casa, e mal trancou a porta, já foi jogando bolsa e blusa no sofá, tirando o All Star do pé de qualquer jeito e se arrastou até o quarto, onde se jogou na cama.
— Ainda bem que a mamãe não ta em casa hoje… não vai me obrigar a levantar e ir almoçar.
O celular tocou.
— 6449… não to reconhecendo… quem será? Alô?
— Jana?
— Quem é?
— Ah, maus aê.  É o Daniel, do inglês.
Um arrepio percorreu a espinha de Janaína.
— Ahn, oi. Tudo bem com você?
— Tudo, e você?
— Bem.
— Jana, você sabe me dizer qual é a lição que a gente tem que entregar hoje?
— Unidade cinco, se não me engano. Mais o texto.
— Putz, ferrou. Não comecei nenhum dos dois e não entendi nada da última unidade…
— Quer ajuda?
— Óbvio que sim!
— Você consegue chegar lá na escola daqui a quanto tempo?
— Mais ou menos uma hora.
— Me encontra lá que te sou umas dicas pra lição, pode ser?
— Opa, partindo aqui. Beijos, te vejo daqui a pouco.
Ela desligou o celular e apertou o travesseiro contra o rosto.
— Ah, o que eu não faço por eles…
Levantou, calçou o tênis, pegou blusa, bolsa e uma bolacha para comer no caminho. Acabou chegando quinze minutos antes de Daniel.
— Nossa, você é rápida, hein? Achei que eu ainda ia ter tempo pra dar uma olhadinha no livro, sabe, só pra não fazer feio, pra você não achar que eu sou um completo ignorante. — ele riu.
— Não precisa me esconder uma coisa que eu já sei! Tá, brincadeiras a parte, o que você realmente não entendeu? E por favor, não diga ‘tudo’!
— Deixa eu ver… acho que principalmente aquele negócio de present perfect. Tipo, não peguei a estrutura, quando que eu uso isso, e por aí vai.
— Acho que seu caso tem solução, mas pra começar, não seria melhor se você sentasse?
— He, he, verdade. — ele puxou uma cadeira para perto de Janaína.
— Então, a estrutura não tem muito segredo, você vai usar have, ou has, depende da pessoa, mais o verbo no passado, se for regular. Se for irregular, você vai usar o past participle.
— Aquele da terceira coluna? — Daniel aproximou mais a cadeira.
— É, a terceira coluna que por acaso se chama past participle.
— Tá, parece que meu cérebro tá começando a entender. Então, sei lá, pra dar um exemplo, posso falar “I have swept my whole house” ou “She has fallen in love with the wrong guy”?
—Se eu não te conhecesse, ia dizer que você aprende muito rápido! Ou, quem sabe, que me chamou aqui só pra ficar olhando pra minha cara!
— É, né, quem sabe…
— Ahn, mas voltando à explicação, você também não entendeu quando usar, né?
— Isso. — mais uma vez, ele puxou a cadeira. Mas dessa vez ela encostou na cadeira de Janaína; esta, cada vez mais vermelha.
— Basicamente, é quando a frase não tem indicação de tempo, porque a ação é mais importante do que quando ela aconteceu. Ou também quando acabou de acontecer.
— Ah, é, tipo “I have just taken a shower”.
—Eu acho que eu vou embora! Você tá quase sabendo mais do que eu!
— Não, não vai não. Você é uma professora muito boa… — a mão dele ficou em cima da dela.
— Se isso for um elogio, eu agradeço.
— Ué, e tem como não ser?
— Vindo de você, qualquer coisa é possível!
— Tá, isso não pareceu elogio!
— Ui, ele se sentiu ofendido…
— Não muito. Sua voz melhora até uma ofensa.
— Daniel…
— Hum?
— Me desculpa ser, sei lá, direta demais, mas por acaso você tá dando em cima de mim?
Daniel arqueou a sobrancelha direita e sorriu.
— Achei que você nunca ia perceber… — ele se inclinou em direção a Janaína, que recuou um pouco.
— Você tá louco? E se passar alguém aqui?
— Tá todo mundo em aula. E não é segredo que a sala de estudos é mais vazia do que câmara de vácuo.
Janaína riu da piada patética e Daniel continuava se aproximando. Para não cair, ela já não podia mais se afastar, então tentava manter uma distância entre os dois colocando as mãos nos ombros dele, “empurrando”. Quando ela estava prestes a ceder, os lábios dos dois quase se tocando, uma terceira voz encheu a sala.
— Daniel!
Ele se virou para a porta, branco como lençol, com os olhos arregalados.
— Heloísa?!
— Eu… eu não acredito!
— Não, amor, espera…
— Amor?! Você tem namorada?
— Ele tinha namorada! Não quero mais nem olhar pra cara desse cretino!
Heloísa saiu pisando duro. Janaína estava boquiaberta e Daniel estacou no meio da sala.
— Idiota. — ela jogou tudo dentro da bolsa, que pendurou no ombro esquerdo.
— Jana…
— Sai da minha frente.
Ela deu um empurrão no garoto, que se desequilibrou e se apoiou na mesa. Janaína bateu na sala onde sua professora estava dando aula, entregou o que precisava e disse que não poderia ficar. Já na rua, uma depois da outra as lágrimas caíam.
— Idiota… idiota… eu sou muito idiota.

2 comentários:

  1. Nossa que história triste e que final inusitado, muito bom, você me impressiona cada vez mais Cass Kock. Eu sou um garoto e mesmo assim acho muito idiota trair, um conhecido meu traia a namorada dele por diversão e quando eu descobri isso contei para ela na hora, se for trair é melhor nem namorar...

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    1. Concordo, não vejo sentido em assumir um compromisso com uma pessoa se não for para honrar isso.

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