Jana chegou
cansada em casa, e mal trancou a porta, já foi jogando bolsa e blusa no sofá,
tirando o All Star do pé de qualquer jeito e se arrastou até o quarto, onde se
jogou na cama.
— Ainda bem
que a mamãe não ta em casa hoje… não vai me obrigar a levantar e ir almoçar.
O celular
tocou.
— 6449… não
to reconhecendo… quem será? Alô?
— Jana?
— Quem é?
— Ah, maus
aê. É o Daniel, do inglês.
Um arrepio
percorreu a espinha de Janaína.
— Ahn, oi.
Tudo bem com você?
— Tudo, e
você?
— Bem.
— Jana, você
sabe me dizer qual é a lição que a gente tem que entregar hoje?
— Unidade
cinco, se não me engano. Mais o texto.
— Putz,
ferrou. Não comecei nenhum dos dois e não entendi nada da última unidade…
— Quer
ajuda?
— Óbvio que
sim!
— Você
consegue chegar lá na escola daqui a quanto tempo?
— Mais ou
menos uma hora.
— Me
encontra lá que te sou umas dicas pra lição, pode ser?
— Opa,
partindo aqui. Beijos, te vejo daqui a pouco.
Ela desligou
o celular e apertou o travesseiro contra o rosto.
— Ah, o que
eu não faço por eles…
Levantou,
calçou o tênis, pegou blusa, bolsa e uma bolacha para comer no caminho. Acabou
chegando quinze minutos antes de Daniel.
— Nossa,
você é rápida, hein? Achei que eu ainda ia ter tempo pra dar uma olhadinha no
livro, sabe, só pra não fazer feio, pra você não achar que eu sou um completo
ignorante. — ele riu.
— Não
precisa me esconder uma coisa que eu já sei! Tá, brincadeiras a parte, o que
você realmente não entendeu? E por favor, não diga ‘tudo’!
— Deixa eu
ver… acho que principalmente aquele negócio de present perfect. Tipo, não peguei a estrutura, quando que eu uso
isso, e por aí vai.
— Acho que
seu caso tem solução, mas pra começar, não seria melhor se você sentasse?
— He, he,
verdade. — ele puxou uma cadeira para perto de Janaína.
— Então, a
estrutura não tem muito segredo, você vai usar have, ou has, depende da
pessoa, mais o verbo no passado, se for regular. Se for irregular, você vai
usar o past participle.
— Aquele da
terceira coluna? — Daniel aproximou mais a cadeira.
— É, a
terceira coluna que por acaso se chama past
participle.
— Tá, parece
que meu cérebro tá começando a entender. Então, sei lá, pra dar um exemplo, posso falar “I have swept my whole house” ou “She has fallen in love with the wrong guy”?
—Se eu não
te conhecesse, ia dizer que você aprende muito rápido! Ou, quem sabe, que me
chamou aqui só pra ficar olhando pra minha cara!
— É, né,
quem sabe…
— Ahn, mas
voltando à explicação, você também não entendeu quando usar, né?
— Isso. —
mais uma vez, ele puxou a cadeira. Mas dessa vez ela encostou na cadeira de
Janaína; esta, cada vez mais vermelha.
—
Basicamente, é quando a frase não tem indicação de tempo, porque a ação é mais
importante do que quando ela aconteceu. Ou também quando acabou de acontecer.
— Ah, é,
tipo “I have just taken a shower”.
—Eu acho que
eu vou embora! Você tá quase sabendo mais do que eu!
— Não, não
vai não. Você é uma professora muito boa… — a mão dele ficou em cima da dela.
— Se isso
for um elogio, eu agradeço.
— Ué, e tem
como não ser?
— Vindo de
você, qualquer coisa é possível!
— Tá, isso não pareceu elogio!
— Ui, ele se
sentiu ofendido…
— Não muito.
Sua voz melhora até uma ofensa.
— Daniel…
— Hum?
— Me
desculpa ser, sei lá, direta demais, mas por acaso você tá dando em cima de
mim?
Daniel
arqueou a sobrancelha direita e sorriu.
— Achei que
você nunca ia perceber… — ele se inclinou em direção a Janaína, que recuou um
pouco.
— Você tá
louco? E se passar alguém aqui?
— Tá todo
mundo em aula. E não é segredo que a sala de estudos é mais vazia do que câmara
de vácuo.
Janaína riu
da piada patética e Daniel continuava se aproximando. Para não cair, ela já não
podia mais se afastar, então tentava manter uma distância entre os dois
colocando as mãos nos ombros dele, “empurrando”. Quando ela estava prestes a
ceder, os lábios dos dois quase se tocando, uma terceira voz encheu a sala.
— Daniel!
Ele se virou
para a porta, branco como lençol, com os olhos arregalados.
— Heloísa?!
— Eu… eu não
acredito!
— Não, amor,
espera…
— Amor?!
Você tem namorada?
— Ele tinha namorada! Não quero mais nem olhar
pra cara desse cretino!
Heloísa saiu
pisando duro. Janaína estava boquiaberta e Daniel estacou no meio da sala.
— Idiota. —
ela jogou tudo dentro da bolsa, que pendurou no ombro esquerdo.
— Jana…
— Sai da
minha frente.
Ela deu um
empurrão no garoto, que se desequilibrou e se apoiou na mesa. Janaína bateu na
sala onde sua professora estava dando aula, entregou o que precisava e disse
que não poderia ficar. Já na rua, uma depois da outra as lágrimas caíam.
— Idiota…
idiota… eu sou muito idiota.
Nossa que história triste e que final inusitado, muito bom, você me impressiona cada vez mais Cass Kock. Eu sou um garoto e mesmo assim acho muito idiota trair, um conhecido meu traia a namorada dele por diversão e quando eu descobri isso contei para ela na hora, se for trair é melhor nem namorar...
ResponderExcluirConcordo, não vejo sentido em assumir um compromisso com uma pessoa se não for para honrar isso.
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