sábado, 27 de outubro de 2012

Além de Linda...


Lauro inclinou a cabeça para o lado e a apoiou no ombro de Gabriela.
— Não quero te perder.
— E quem disse que vai?
— Um dia eu vou. Sei que esse dia vai chegar. — ele se endireitou, colou os ombros na parede e ficou olhando para o nada — As coisas não acontecem como gostaríamos que acontecessem.
— Você não gostou de ter ido ao shopping no dia em que me conheceu?
— Claro que gostei.
— Não gostou de ter ido falar comigo?
— Gostei.
— Não gostou do momento em que aceitei namorar você?
— Como assim, Gabi?
— Responde.
— É óbvio que gostei, foi um dos momentos mais felizes da minha vida.
— Não gosta de estar comigo aqui, agora?
— Gosto, claro que gosto. Que perguntas são essas?
— Você ainda tem coragem de dizer que as coisas não acontecem como gostaríamos que acontecessem depois de tudo isso?
Ele suspirou e olhou para a namorada. Sorriu involuntariamente. Além de linda, era esperta. Melhorava seu humor. Era compreensiva. Meiga. Lauro mal acreditava que estava com uma garota como Gabriela.
— Você entendeu o que eu quis dizer. Sei que a gente não vai ficar junto pra sempre.
Gabriela, sem se levantar do chão, sentou na frente do namorado e apoiou as mãos nos joelhos dele.
— Por que você ta falando assim?
— Meu irmão terminou com a namorada dele ontem. Aí me toquei de que um dia isso também vai acontecer com a gente.
— Quem garante? — Lauro abaixou a cabeça e Gabriela continuou — Amor, a não ser que você não goste mais de mim, não tem porquê ficarmos discutindo isso. Vai acontecer o que tiver que acontecer. Vamos aproveitar o tempo que temos juntos, nosso presente, que do futuro ninguém sabe. E não importa o que acontecer lá na frente, — ela levantou o rosto do rapaz com o indicador — essa Gabi aqui com você vai ser sempre sua.
Lauro sorriu de novo e beijou a namorada. Além de linda, ela era dele.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Eu


Eu sempre fui o patinho feio das turmas em que estudei. Eu era mais alta, gorducha, tímida demais, um pouco tapada, diga-se de passagem, e para finalizar o pacote, as espinhas tomaram todo o meu rosto na quinta, sexta série.
A consequência disso era meio óbvia: eu tinha pouquíssimos amigos, só saía com meus pais, tinha vergonha da minha aparência e minhas roupas eram largas, mesmo que minha mãe insistisse em dizer que roupas um pouco mais justas seriam mais femininas.
Na minha cabeça minha vida seria daquele jeito até o fim dos meus dias; não porque ninguém gostasse de mim, mas porque era o que me parecia natural. Afinal, eu tinha exatamente o mesmo perfil daquelas pessoas que, em filmes americanos, são chamados de losers ou loners. Sim, eu era uma genuína perdedora.
Felizmente eu cresci, não só em tamanho como mentalmente. A necessidade de mostrar quem eu era de verdade passou a ser maior do que qualquer timidez ou medo de rejeição. Não passei por nenhuma mudança radical, nem criei uma meta, as coisas aconteceram naturalmente.
Aprendi a conviver com o fato de que nunca serei uma garota esguia, e que posso ter algumas gordurinhas e ser perfeitamente feliz. Minha altura já não me incomoda tanto, mas ainda não me sinto segura o suficiente para subir em um salto com sete centímetros ou mais; ter que abaixar para conversar com algumas pessoas é extremamente desconfortável. Espinhas? Está nos meus genes, não há muito o que eu possa fazer a respeito além de manter a pele limpa. Hoje eu uso roupas justas – com bom senso, é claro – sem medo do que os outros vão pensar, mas não dispenso um bom e larguíssimo moletom, uso toucas de panda, mechas vermelho-fantasia no cabelo, tênis destruídos com um vestido mais romântico. Uso o que me der na telha. E meus amigos, hoje em um número um pouco maior, continuam gostando de mim, porque gostam das minhas ideias, minhas atitudes.
Essa sou eu. E me sinto bem ao dizer àqueles que não me aprovam que me olhem menos e se calem mais.