terça-feira, 30 de abril de 2013

Nós e a Tecnologia


No último fim de semana, acordei, tomei café e fui direto para o computador, usar a internet. Coloquei o plug na tomada, liguei o estabilizador, apertei o botãozinho do gabinete, vi o monitor acender e, enquanto esperava o PC inicializar, fui pegar um copo de suco na cozinha. Até aí, nada de extraordinário. Voltei e tentei conectar a internet. Meu estresse começou aí. Eu realmente só tentei, porque conectar que é bom, nada.
A janela “Estabelecendo conexão por miniporta WAN (PPPOE)” abria, mas depois de longos segundos aparecia bem no meio da tela “Erro 678: o computador remoto não responde”. Pacientemente, cliquei em “Rediscar”. Fiz isso mais uma, duas, cinco, oito vezes, até que, com o sangue fervendo, resolvi desligar o computador, desconectar e reconectar todos os cabos do modem. Se adiantou? Não.
O que quero mostrar contando tudo isso é o vício que temos em tecnologia, em estarmos o tempo todo conectados. Gastei quase uma hora inteira do meu dia tentando ligar uma coisa sem a qual eu deveria viver perfeitamente bem. Afinal, o que há de tão importante nela? Facebook? Jogos? YouTube? Se eu ao menos trabalhasse, poderia dizer que precisava verificar meus e-mails, talvez. Mas na realidade eu queria me conectar pelo simples hábito – além do fato que, se estou pagando pela prestação de um serviço, devo recebê-lo, não?
Outro dia, esqueci meu celular na escola e só fui recebê-lo na manhã do dia seguinte, ou seja, passei 20 horas sem ele. E não senti a menor falta de acender sua tela a cada meia hora para saber se eu tinha uma nova mensagem, alguma perdida ou de ficar apertando botõezinhos indefinidamente, jogando Block’d. Mas sei que sou uma exceção à regra, que a maioria das pessoas sentiria no mínimo um desconforto diante dessa situação.
E nosso vício vai muito além de computadores e celulares: videogames, iPods, iPads, microondas, geladeiras, máquinas de lavar e até secadores de cabelo e chapinhas.
Nas palavras de Einstein, “temo o dia em que a tecnologia se sobreponha à humanidade. Então o mundo terá uma geração de idiotas”.

Prato de Comida


Naquele dia, Márcio acordou radiante; era o primeiro dia no emprego novo, depois de três meses desempregado, preocupado com o sustento do seu garoto, sua caçula e sua mulher. Estela trabalhava de manicure e cabeleireira, mas não ganhava o suficiente para manter a casa. O marido havia conseguido aquela vaga na siderúrgica em ótima hora. Plano de saúde, carteira assinada e bom salário. Era tudo o que pediam a Deus.
O ônibus da empresa passaria no ponto as quinze para as sete. Dez minutos antes, Márcio já o estava esperando, parado, sozinho na rua. Quando o barulho do motor despontou na rua deserta, o coração disparou. Ele entrou, meia dúzia de peões já estavam sentados, dormindo. Márcio fechou os olhos e tentou fazer o mesmo, mas foi impossível. Muito simples, assim como ele, todos os operários que entravam no ônibus o cumprimentavam, e Valdir fez questão de se sentar ao seu lado. Se apresentou e disse para pedir ajuda sempre que precisasse. Apesar de não demonstrar, Márcio suspirou aliviado.
No período da manhã não teve nenhuma tarefa propriamente dita. Seu supervisor o orientou com relação às suas tarefas e deixou implícitas algumas ideias da hierarquia ali, para quem trabalhava em chão de fábrica. Todos eram peões, mas anos de casa faziam diferença de vez em quando.
Hora do almoço. Márcio entrou no refeitório sem acreditar no que via; executivos engravatados, secretárias com roupas alinhadas, faxineiras, operários, todos juntos, na mesma fila esperando para pegar a mesma comida. Eram tratados como iguais, afinal. Com o prato já cheio, saiu da fila e viu Valdir acenando, indicando um lugar vazio na mesa.
—Nossa Senhora, garoto! — Valdir arregalou os olhos para o prato de Márcio, que ruborizou — Vai com calma, podemos repetir se quisermos.
— É que… — ele tomou um gole de suco para ajudar a comida a descer — preciso comer aqui, encher o bucho. Tenho que deixar a comida de casa para os meus pequenos.