Eu sempre fui o patinho feio das turmas em que estudei. Eu era
mais alta, gorducha, tímida demais, um pouco tapada, diga-se de passagem, e
para finalizar o pacote, as espinhas tomaram todo o meu rosto na quinta, sexta
série.
A consequência disso era meio óbvia: eu tinha pouquíssimos
amigos, só saía com meus pais, tinha vergonha da minha aparência e minhas
roupas eram largas, mesmo que minha mãe insistisse em dizer que roupas um pouco
mais justas seriam mais femininas.
Na minha cabeça minha vida seria daquele jeito até o fim dos
meus dias; não porque ninguém gostasse de mim, mas porque era o que me parecia
natural. Afinal, eu tinha exatamente o mesmo perfil daquelas pessoas que, em
filmes americanos, são chamados de losers
ou loners. Sim, eu era uma genuína
perdedora.
Felizmente eu cresci, não só em tamanho como mentalmente. A necessidade
de mostrar quem eu era de verdade passou a ser maior do que qualquer timidez ou
medo de rejeição. Não passei por nenhuma mudança radical, nem criei uma meta,
as coisas aconteceram naturalmente.
Aprendi a conviver com o fato de que nunca serei uma garota
esguia, e que posso ter algumas gordurinhas e ser perfeitamente feliz. Minha altura
já não me incomoda tanto, mas ainda não me sinto segura o suficiente para subir
em um salto com sete centímetros ou mais; ter que abaixar para conversar com
algumas pessoas é extremamente desconfortável. Espinhas? Está nos meus genes, não
há muito o que eu possa fazer a respeito além de manter a pele limpa. Hoje eu
uso roupas justas – com bom senso, é claro – sem medo do que os outros vão
pensar, mas não dispenso um bom e larguíssimo moletom, uso toucas de panda,
mechas vermelho-fantasia no cabelo, tênis destruídos com um vestido mais romântico.
Uso o que me der na telha. E meus amigos, hoje em um número um pouco maior,
continuam gostando de mim, porque gostam das minhas ideias, minhas atitudes.
Essa sou eu. E me sinto bem ao dizer àqueles que não me
aprovam que me olhem menos e se calem mais.
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