quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Meu Presente De Natal

Eu sei que esse poeminha está chegando um pouco atrasado, mas ele decidiu se apresentar para mim só hoje... espero que gostem!
Desenho da tatuadora Francesca Crescentini

Não sou como criança, feliz
À espera de um bom velhinho
Em noite de natal, mas quis
Me levantar e como presente achar
Teu coração debaixo da árvore.

Já te entreguei o meu, embrulhado
Com fitas e papel de presente.
E espero, todos os dias por um pacote
Retribuindo, me mostrando o que sente.
Mas não sei se não foi enviado,
Ou se foi esquecido no Pólo Norte.

Me dizem que não será realizado
O único pedido que faço há anos.
Nossos corações baterão lado a lado
É o que digo, mas não no que acredito,
Pois já te vi entregue a outra paixão,
De corpo, alma e principalmente, coração.

Segredos, Conflitos e Amor - Cap. 03

            Depois que Alice foi embora, Calina deu um soco no braço de Rafael, que estava rindo descontroladamente, porque ainda que ela achasse tanta graça quanto ele na expressão de impaciência que tinham acabado de ver, preferia não deixar tão evidente.
            Enquanto isso, Maria, Fumio e Sasha estavam discutindo para decidir como o cartaz do trabalho seria.
            — Gente, é uma propaganda, o cartaz tem que chamar a atenção! Não dá pra fazer com cartolina branca!
         — Mas a branca já ta aqui, não precisa comprar outra, Maria! Sasha, você concorda, né?
        Fumio sabia muito bem com quem Sasha iria concordar, mas não custava nada ver se ele teria uma mudança de idéia súbita.
        — Bem... Vamos usar aquilo que nós já temos, não é? Eu acho que é mais prático.
        Muito a contra gosto, Maria concordou em usar a cartolina e ajudou em tudo, mas ficou emburrada do começo ao fim. E alertou que caso perdessem nota pelo fato de o trabalho não ser ‘interessante’ o suficiente, a culpa seria deles, e não havia quem a fizesse mudar de idéia. Sendo assim, os dois garotos desistiram de tentar arrancar alguma palavra dela.
         Quando terminaram e já estavam indo embora, Sasha perdeu a paciência.
         — Menina, deixa de criancice! Nós fizemos o trabalho e é isso o que importa! Se a professora não gostar, fazer o quê? Pelo menos fizemos alguma coisa!
          Maria deixou o cartaz no chão, se virou e foi embora.
        — Olha, eu vou arriscar um palpite… — Fumio se abaixou e pegou o cartaz — Eu acho que ela não gostou do seu tom de voz…
      — Haha, muito engraçado. Eu não vou pedir desculpa… Escuta, você ta a fim de ir ali na Avalanches?
          — Não, valeu. Eu já tinha que estar em casa, na verdade. Falou, cara. A gente se vê amanhã.


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Histórias de Amor

Histórias de amor sei muitas,
Inclusive de amor verdadeiro,
Aquele que é forte e eterno
Mas chega sem alarde, sorrateiro.

Histórias de amor há aos montes,
Assim como muitos sofrem de amor juvenil,
Aquele que arde no peito
E nos faz ter delírios mil.


Histórias de amor são belas,
Como aquelas vividas em ficção.
Que passam por inúmeros problemas,
Mas sempre aquecem o coração.

Diante destes e de outros amores
Não encontro o perfeito para mim.
Não por falta de calor humano,
Mas por ter sofrido tanto assim.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Segredos, Conflitos e Amor - Cap. 02


Alice apareceu com o nariz vermelho e o rosto um pouco úmido. Quando percebeu que estavam olhando para ela, passou a mão nos cabelos longos e se virou com um sorriso que dizia “por favor, finjam que não sabem que eu estava chorando”. Mas Maria era muito curiosa e um tanto irônica dependendo da situação, então fingiu que não sabia de nada e perguntou se estava tudo bem. Como resposta, Alice só piscou os olhos em afirmação e logo em seguida apanhou todo o material para ir embora, dizendo que ainda não tinha estudado nada para a prova de Física do dia seguinte e precisava de muita nota naquela matéria. Assim que disse tchau, Sasha apareceu no portão, com sua calma de sempre.
            — Sasha! Até que enfim você apareceu! — Maria se levantou e pegou a mão do garoto, puxando-o para dentro da escola — A gente tem que fazer o trabalho!
            — Epa, calma aí! Achei que ainda eram duas e meia e… — olhando no relógio — e são duas e meia! Tem muito tempo ainda! Respira um pouco, se acalma e não me faz correr, porque eu acabei de almoçar.
            — Ótimo pra você, agora vamos. Fumio, você também.
            Quando eles entraram, Alice comentou como Maria era afobada e ‘quase’ mandona com Sasha. Calina e Rafael riram, concordando.
            — Você tem razão. Mas, convenhamos, ele gosta. Ou melhor, adora que ela seja assim.
            Vendo que ela não tinha entendido, Rafael continuou:
            — Vai dizer que você não reparou que ele nunca reclamou dela e sempre faz o que ela quer sem dizer nada? Se ele realmente não gostasse disso, a Maria já teria parado há muito tempo.
            — Hum, é verdade. Bem, agora tô indo mesmo. Tchau.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Segredos, Conflitos e Amor - Cap. 01


“Não acredito que eu fiz isso! Não acredito! Como eu pude ser tão burra a ponto de repetir o mesmo erro? Ninguém pode nem sonhar que eu… ah, deixa pra lá. É melhor nem falar. Que ódio! Mas também, por que...”
            O papel estava rasgado bem ali e deixou Calina curiosa. Parecia uma página de diário, mas que garota seria louca de levar algo tão secreto assim para a escola e ainda perder uma página, ou melhor, parte dela? Ao invés de jogar o papel fora e esquecer aquilo, ela o dobrou e guardou no bolso.
            — Se isso aí for dinheiro, pode tratar de me pagar. — Calina se perguntava como Rafael podia ser o mais engraçado da sala com piadas como aquela — Tem um mês que você pediu dois reais para o lanche e ainda não pagou.
            — Não é dinheiro, mas amanhã te pago, sem falta. Você sabe de quem é essa letra?
            Ela mostrou a folha que achou.
            — Não. Talvez a Maria Ishii saiba. Acho que ela tá lá na frente com o Fumio.
            — Jura? Que novidade. Os dois e o Sasha não se largam, né? Nem parece que a Maria é minha melhor amiga.
            Calina foi procurar os amigos e, realmente, eles estavam na frente da escola, falando do livro que a professora de Português tinha pedido para a sala ler, mas parecia que outra vez só eles iriam cumprir a tarefa. Maria se demorou olhando o papel, mas também não sabia de quem era aquela caligrafia.
            — Acho que a dona disso aí pode ser a Alice. Ela entrou correndo e chorando no banheiro mais ou menos meia hora depois que a gente saiu. — Fumio sentiu os olhares das amigas sobre ele e logo se explicou — Ei! Eu não tava lá dentro não! Tava indo até a secretaria quando vi aquela cabeleira ruiva dela indo pro banheiro. E por falar na pessoa...

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Fingir e Acreditar


Viver é um dos desafios mais perturbadores que existe. Principalmente se tentamos agradar a todos, já que sempre há alguém achando defeitos em tudo o que fazemos.  Mas, se nossa convivência com os outros depende do que eles pensam de nós, o que devemos fazer? Se agimos de acordo com aquilo que queremos, somos tachados de rebeldes (para não dizer nomes piores); mas se nos comportamos como os querem, para causar boa impressão, somos falsos. O mais engraçado é que aqueles que apontam para nós são sempre os mais falsos. Fingem ser amigos de todos; fingem ser bem-resolvidos; fingem ter os laços mais fortes entre si. E fingem acreditar nisso. Ou, em certos casos, se iludem tanto que realmente acreditam. Mas para quem é mais realista, a pressão que vem de todos os lados pode levar a loucura. Alguns são mais fortes, outros ignoram, alguns são fracos e se deixam levar. Os fortes superam, quem ignora não muda e os fracos afundam; chegam lá, mas afundam. Ninguém os entende, ninguém sabe como é o fundo do poço, passar pelo caminho mais sofrido. Querer sumir, dar um fim em tudo, mas não ter coragem. Não, não é exagero, drama ou de fazer de coitadinho; é a mais pura verdade. Só que isso parece muito difícil de entender para aqueles ‘fingidores’, porque de tanto fazer de conta, o cérebro atrofia, e lá se vai toda a capacidade cognitiva do indivíduo pelo ralo.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Se Eu Fosse Uma Rosa - Capítulo 09

Pietro percebeu que algo estava errado e procurou o motivo por todos os lados, e achou Caio, que ia em direção a mesa.
— Laura, — ele começou, mas Pietro o impediu de terminar a frase.
— Por acaso alguém te convidou?
— Não, mas eu vim aqui para dizer a minha namorada o quanto eu gosto dela, e com certeza não vim aqui para brigar com você, por hoje chega.
Caio hesitou por um momento, mas decidiu falar com Laura, e tinha um tom de esperança na voz.
— Laura, por favor, não me deixe assim. Você sabe que eu te amo, eu sei que sabe. Não termine tudo por causa do que aconteceu hoje, eu te peço, me dê mais uma chance.
Laura estava com o rosto abaixado para o prato, apenas ouvindo, o cabelo cobrindo qualquer demonstração de emoção. Caio tinha me colocado ao lado da faca apoiada na mesa, e eu era a única que podia ver o rosto da moça, então tenho certeza de que também fui a única que viu o que aconteceu depois que Caio terminou de falar: ela derrubou uma lágrima, que foi direto para o prato, mas ninguém a notou. Provavelmente nem a própria Laura, pois ela se virou para Caio e falou em um tom tão frio quanto o de um robô:
— Não adianta, Caio, acabou. Não tem segunda chance. Admiro sua coragem por ter vindo aqui, mas não adiantou de nada. Pode levar suas rosas embora.
Ela me tirou da mesa, com as mãos geladas, tremendo, e me entregou de volta para o ex-namorado, que me segurou por um instante e me deixou cair no chão. Reparei que o mesmo lírio e o mesmo narciso que tinham me chamado de ‘flor sem-graça’ agora me olhavam do vaso com espanto.
Caio foi embora e por algum motivo que desconheço, Pietro o seguiu. Não sei se brigaram ou não, sei apenas que vi Laura sentada na mesa, segurando o choro e então enterrando o rosto nas mãos. Ela se virou para mim, e com os olhos e o rosto molhados, sussurrou:
— Me desculpe, Caio.

FIM

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Perfeição


Todos temos aquele momento de meditação, normalmente antes de dormir, enquanto estamos deitados na cama sem sono nenhum, olhando para o teto no escuro. Esse escuro todo nos lembra uma pessoa, alguém que não sabemos se lembra de nós ao se deitar. E assim ficamos horas a fio, com o coração pulando, mortos de ansiedade, respirando ar e expelindo paixão. Muitas vezes nem nós entendemos o porquê de toda essa alteração; nem perto da pessoa estamos, não estamos olhando para ela, o seu perfume não está nos embebedando. Ou pelo menos é o que pensamos. Afinal, ela está sempre no nosso coração; basta fechar os olhos para enxergar aquele rosto perfeito; é só respirar fundo que o cheiro inconfundível da pele invade os pulmões. Quem nunca quis esquecer que alguém pode reunir tanta perfeição, apenas para dormir um pouco, para ter energia e conseguir ficar acordado no dia seguinte, admirando a beleza do outro? Queremos tocar aquele rosto e sentir o toque daquelas mãos. Seríamos capazes de ocupar as 24 horas de nosso dia andando ao lado da pessoa, para, além de ter sua presença, ter certeza de que nada nem ninguém irá machucá-la. O engraçado é que muitas vezes, após certo período de convivência, passamos a reconhecer seus defeitos, mas nem por isso deixamos de enxergar a pessoa com uma magia única, que faz qualquer imperfeição parecer insignificante. Porque o amor não é cego. Muito menos surdo e mudo. Ele é compreensivo, tolerante. O amor é tudo aquilo que qualquer um de nós jamais será. Perfeito.

Se Eu Fosse Uma Rosa - Capítulo 08

Ela bufou do outro lado da linha.
— Fala logo.
— Eu preciso da sua ajuda. Você sabe o quanto eu gosto da Laura, por favor, me ajuda a não perder ela.
— Não sei se você merece.
— Por favor, Amanda. Eu estou sendo sincero.
Ela bufou de novo.
— Tudo bem, eu te ajudo. Ou melhor, tento. O que eu posso te dizer é que ela vai jantar no Le Coc Rouge de novo, às sete, e ela vai com o Pietro. Dê um jeito de ir até lá e fazer ela te desculpar. E eu não te contei nada, ouviu bem? Se a Laura souber…
— Amanda, muitíssimo obrigado. Espero que um dia eu possa te ajudar tanto assim.
— De nada. Preciso desligar, tchau.
— Tchau.
Caio devolveu o telefone ao gancho com um sorriso de orelha a orelha, e aquela alegria me contagiou. Me fez até desabrochar. Foi como mágica. Um segundo antes eu era praticamente um botão, e naquele instante já era uma rosa, bonita.
Às seis e quarenta e cinco, Caio estava saindo para ir ao restaurante reconquistar Laura, e me levava junto. No caminho, ele parou em uma floricultura e comprou um buquê de rosas vermelhas e um cartão, também vermelho, no qual escreveu alguma coisa que não cheguei a ver. Eu tinha certeza de que ou ele me deixaria e levaria apenas o buquê ou me colocaria junto com as outras rosas, mas nada disso aconteceu. Parecia que de alguma forma, por ter passado por tudo junto com ele, eu era especial.
No restaurante, não foi difícil achar o Pietro e a Laura, eles estavam na mesma mesa em que tudo começou: a que ficava na frente do vaso de flores.
Laura viu Caio rápido, e primeiro pareceu estar feliz por ver que ele havia arrumado uma forma de achá-la e ido atrás dela, mas mudou subitamente da alegria para a raiva. Ela engoliu com força e depois de ter olhado fixo para ele por um longo tempo, virou os olhos para o teto e desviou sua atenção para seu prato.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Se Eu Fosse Uma Rosa - Capítulo 07

Assim que desligou, ele suspirou e falou:
— Quem me dera que estivesse tudo bem comigo… nunca me senti tão mal antes. Eu sabia que mais dia, menos dia, a Laura iria voltar para o Pietro. E depois do que fiz hoje, eu não a culpo. Eu devia ter me controlado. — e deu um soco na mesa de cabeceira. Para alguém que acha que deveria ter mais autocontrole, ele estava bem agressivo. — Mas o Pietro é insuportável! Aquele jeito debochado dele de tratar todo mundo é de enlouquecer. — com um suspiro, se deitou de novo — Por que as mulheres têm sempre razão? E por que, nós homens, mesmo sabendo disso não fazemos o que elas dizem? Eu não devia ter voltado no Le Coc Rouge hoje, devia ter ouvido a Laura. Mas não adianta pensar no que eu não devia ter feito, porque desfazer isso é impossível.
Eu queria tentar deixá-lo mais feliz, então eu fiz meu perfume ficar mais forte de novo. Quem sabe isso ajudaria. Mas teve o efeito contrário do que eu queria. O perfume o fez lembrar mais ainda de Laura.
— Rosas. Nunca conheci alguém que gostasse tanto de rosas como a Laura. O drama que ela fez porque eu dei um buquê de lírios ao invés de rosas chegou até a ser engraçado. — Caio riu pelo nariz — Se o Arthur estivesse me escutando agora iria mandar eu voltar a ser homem. — ele ficou pensativo por um instante — Quer saber?
Ele pegou o telefone de novo, mas dessa vez eu pude ouvir a conversa porque eu estava ao lado do fone. Uma voz feminina atendeu.
— Alô?
— Oi, posso falar com a Amanda? É o Caio.
— Ah, nem comece, Caio, eu já sei o que você fez na sorveteria e que a Laura foi embora com o Pietro.
— Amanda, por favor, me escute.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Se Eu Fosse Uma Rosa - Capítulo 06

— Como você é infantil, Caio! Parece que desde os cinco anos de idade seu cérebro continua o mesmo. — ela não teve resposta. Caio não acreditava naquilo que via.
Pietro não conseguia respirar e tentava a todo custo puxar ar para os pulmões. Posso estar enganada, mas aquilo era puro fingimento. Um pouco de sorvete, ou saliva, ou seja lá o que tenha feito ele engasgar, não poderia deixá-lo naquele estado.
— Pietro, calma, a gente vai procurar ajuda. — Laura olhou para o namorado, virou os olhos e foi com Pietro para fora.
Agora estavam a garçonete e Caio paralisados. Ele, quando percebeu a sujeira que tinham feito, pegou alguns guardanapos e limpou o sorvete que estava no chão. Me apanhou, pediu desculpas e foi embora para casa.
Eu estava indignada. Como era possível a namorada dele proteger outro rapaz e ele nem ao menos ir atrás dela para se defender? Eu sei que provavelmente ele estava completamente desnorteado por ter visto isso e que não conseguiria dizer algo que fizesse sentido para ela, mas não custaria nada tentar.
Ele abriu a porta do apartamento e fechou-a tão devagar que parecia que qualquer movimento mais brusco o faria cair no chão, transformado em pó. Dali, foi direto para o quarto, me colocou ao lado do travesseiro, pôs uma bermuda e se jogou na cama, sem se importar se viraria pó ou não. Ele fechou os olhos e apoiou os dedos entrelaçados sobre eles. Em seguida, se lembrou de mim, e me segurando pelas pétalas começou a me observar, como se fosse um filme muito interessante. Ele curvou os lábios em um sorriso. Me deixou de lado novamente e pegou o telefone ao lado da cama. Discou, ainda sorrindo.
Crente que a ligação era para Laura, e depois disso os dois se entenderiam, uma alegria súbita brotou dentro de mim. Mas me desanimei logo:
— E aí, Arthur? Tudo bem aí no escritório? Eu queria te pedir um favor… ah, tudo bem. Mas, por favor, avise todo mundo aí que eu não volto mais hoje… é, tive alguns problemas… não, comigo está tudo bem, sim… com a Laura e com a minha família também, agradeço a preocupação. Não é nada sério. Amanhã eu apareço. Obrigado. Não durma, hein? Não vou estar aí para te acordar! É… tchau.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Se Eu Fosse Uma Rosa - Capítulo 05

Mas quando chegaram lá, deram de cara com Pietro, sentado conversando com a única garçonete do lugar. Laura ainda me tinha nas mãos, e quando o viu, começou a dobrar meu caule, e por pouco não o quebrou. Para quem não sabe como é ser uma flor, imagine uma pessoa tentando encostar sua nuca na sua lombar. É a mesma coisa.
Caio respirou fundo de novo e foi até a garçonete, para tentar pedir duas casquinhas. O problema era que Pietro não esquecia seus desentendimentos facilmente.
— O que é isso? Estão me seguindo agora? Já que eu deixei vocês em paz, o que vocês acham de fazer o mesmo por mim?
— Nós só vamos pedir os sorvetes e vamos embora, não se preocupe. — e falando com a garçonete — Duas casquinhas de morango, por favor.
Ela foi buscar o pedido, deixando os três sozinhos, em um silêncio tão pesado que poderia ser cortado com uma faca. A máquina de sorvete ligou e meio minuto depois a garçonete voltou. Caio pagou e ao se virar para ir embora, Pietro decidiu provocá-lo.
—Não recebo nem um tchau? Achei que nós éramos amigos.
Laura me segurava de cabeça para baixo, mas ainda assim foi possível ver o sorriso malicioso dele e como a garçonete ficou apavorada ao ver que Caio tinha aceitado a provocação. Ele parou e riu pelo nariz.
— Caio, não. — Laura pôs o sorvete na mesma mão em que eu estava e segurou o namorado com a outra — Não vale a pena. Vamos. — ela o puxou, mas ele se desvencilhou e voltou até Pietro.
— Você tem razão. É muita falta de educação sair sem se despedir. E eu também vou te dar um presente, que tal?
Caio nem pensou antes de esfregar o sorvete no rosto de Pietro, que se engasgou.
A garçonete estava paralisada, branca; Laura jogou a mim e ao sorvete no chão e foi socorrer Pietro. 

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Se Eu Fosse Uma Rosa - Capítulo 04

O casal se sentou novamente, chamou o garçom e fez o pedido. Caio ainda estava incomodado, e Laura tentava acalmá-lo.
— Tudo bem, ele já foi embora. Aliás, quem será que o avisou de que estaríamos aqui hoje de novo? Todos já tinham ido.
— Não sei, quem sabe foi a própria aniversariante, que quis me deixar com ciúme, talvez. E se queria, conseguiu.
— Caio, não fale assim comigo. Se for para me tratar mal, me levanto agora mesmo e vou embora. Eu falei que nós não devíamos voltar aqui, quem insistiu foi você. Então não ponha a culpa em mim, me ouviu? E por que…
— Meu amor, me desculpe. — ele parecia realmente arrependido de tê-la culpado — É que o Pietro simplesmente… me tira do sério.
Ela sorriu, mostrando que o entendia. Naquele momento, se olhavam com tanto carinho que se na ocasião eu tivesse um coração, ele iria pular de alegria. Mas como isso não era possível, apenas o que fiz foi abrir um pouco minhas pétalas e tentar fazer meu perfume chegar até eles. Não dizem que perfume de rosas é romântico?
— Que cheiro bom… de rosas. — Laura procurou de onde o cheiro vinha. Quando me achou, ficou espantada — Nossa! Como uma rosa que ainda nem desabrochou pode cheirar tão bem?
Caio foi até o garçom que tomava conta do bar e perguntou se poderia pegar a rosa do vaso. O garçom olhou para o vaso com um olhar de ‘e por acaso tem alguma rosa aqui?’. Assim que viu que se tratava de uma flor que não fazia diferença no arranjo, apenas acenou um sim com a cabeça.
— Uma flor para uma flor.
— Deixe de ser cafona. — Laura sorriu — Obrigada.
O almoço chegou e eles o comeram no mesmo clima de romance. Os dois tinham uma hora e meia de almoço nos empregos, então decidiram ir a uma sorveteria que ficava por perto para comerem algo doce.

domingo, 4 de dezembro de 2011

A Tristeza Mais Alegre

Desde o instante em que nascemos, queremos coisas. Queremos respirar, queremos nossa mãe, queremos comida. Conforme crescemos, passamos a pensar em coisas diferentes; queremos um carrinho, uma boneca, uma bola, queremos ir lá fora num dia de chuva. O tempo passa mais um pouco e tudo muda de novo: queremos crescer logo, queremos ter alguma profissão que achamos divertida quando crescermos. E assim a vida passa, e nós sempre queremos algo diferente, que achamos que nos trará felicidade. Mas entre tudo aquilo que queremos, o que realmente nos derruba é querer alguém. Alguém que não podemos ter. Alguém que também quer alguém, que não é a gente. Alguém que nos faz ter uma breve visão do paraíso quando aparece. Alguém que não tem a mínima noção do que sentimos, porque temos medo de ter um enfarte ao dizer. Alguém que nos deixa gelados, com a respiração alterada, sonhando com os olhos abertos pela simples lembrança que guardamos na memória. Alguém que nos tira noites preciosas de sono. Alguém que, somente com sua presença, nos alegra. Alguém que amamos tanto, mas tanto, que preferíamos nem ter conhecido, pois isso nos pouparia muito sofrimento. Alguém que ainda esperamos ter ao nosso lado, para dizer as três palavras mais simples e mais ricas do nosso vocabulário: eu te amo. Quem pensa que tudo o que foi dito é dramático demais, que o amor não é tudo isso, que os apaixonados são sofredores por escolha pode estar certo. Mas tenho certeza de que, sofredores ou não, sabendo ou não, os apaixonados são os mais felizes do mundo, pois a cada vez que vêem o seu alguém, sentem a tristeza mais alegre da Terra. O amor. 

Se Eu Fosse Uma Rosa - Capítulo 03

— Caio! Não, não vamos voltar. Aqui é muito caro.
— Laura, eu sei que você gostou da ideia. Não reclame, por favor. E pode dizer, sou o maioral ou não sou?
— Bobo. Mas, é, você é sim. Agora é melhor nós irmos. Temos que trabalhar amanhã!
E foram embora. Eu mal sabia o que veria acontecer no próximo dia.
Assim como Caio tinha dito, no dia seguinte, na hora do almoço, eles voltaram ao restaurante e se sentaram na mesma mesa da noite passada, bem na minha frente. Antes de fazerem o pedido, o rapaz disse que voltaria logo e saiu da mesa. Como se estivesse esperando isso, um outro rapaz apareceu e se sentou no lugar dele.
— Parabéns, Laurinha. Não pude vir ontem, mas me contaram que você estaria aqui hoje, então vim te ver. — ele tinha um ar de deboche.
— Pietro, agradeço os parabéns, mas você sabe que sua presença me incomoda e ao Caio também. Então que tal me deixar em paz? Seria um ótimo presente de aniversário!
— Quanta delicadeza! Pedindo assim você me faz querer ficar mais.
Caio chegou nessa hora e não gostou nem um pouco do que viu. Seu rosto ficou rosado de cólera, e para evitar qualquer constrangimento, respirou fundo antes de voltar à mesa.
— Que surpresa. Pietro. — e se voltando para a namorada — Laura, me desculpe, mas perdi a vontade de comer aqui. Você se importaria de ir embora comigo?
Ela não respondeu, só se levantou e foi para o lado de Caio, que imediatamente a abraçou pela cintura.
Pietro fechou a cara e olhava para os dois com impaciência; e pelo jeito ele tinha o péssimo hábito de passar a língua de um lado para o outro da boca quando algo o irritava. Também em silêncio, se levantou da mesa e foi embora como se dissesse ‘podem ficar. Sei quando sou rejeitado’.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Se Eu Fosse Uma Rosa - Capítulo 02

Quarenta e cinco minutos depois de os primeiros clientes terem chegado, um grupo de mais ou menos vinte e cinco pessoas se acomodou nas cadeiras a minha frente. Logo em seguida, uma moça vendada foi trazida por um rapaz.
— O que vocês estão tramando? Digam! Vocês sabem que sou curiosa! Não vou aguentar ficar de olhos fechados por muito tempo.
— Fique calma, amor! Nós já chegamos. Pode tirar a venda.
Ela fez o que o namorado disse. Quando viu onde estava, seus olhos brilharam de alegria. Parecia uma criança com um brinquedo novo na mão.
— Eu não acredito! Nós estamos mesmo no ‘Le Coc Rouge’? Eu adoro esse restaurante! Mas aqui é muito caro!
— Se for para te agradar, ainda mais no seu aniversário, nada é muito caro, Laura!
‘Le Coc Rouge’? Será que eu ouvi direito? ‘Galinha Vermelha’? Esse era o nome do restaurante? Infelizmente sim.
Apesar do que a amiga de Laura tinha dito, ficou bem claro que ninguém queria comer muito, obviamente, para não ter nenhuma surpresa desagradável na hora de pagar a conta. Os únicos que estavam mais a vontade para comer mais eram a aniversariante e seu namorado.
Todos estavam se divertindo bastante, mas depois de mais ou menos uma hora e meia os convidados começaram a ir embora, um por um. Davam um abraço e um beijo em Laura, desejavam felicidades e pediam a sua conta para o garçom. Quase todos saíram com os olhos arregalados depois de ver o quanto tinham gasto, mesmo comendo pouco.
No fim da noite, restaram apenas Laura e seu namorado, Caio.
— Eu adorei o jantar, mas não precisava ter me trazido aqui, Caio. Eu sei que você não está em uma situação tão boa assim que te permita comer em um restaurante como esse.
— Fazer isso uma vez não vai matar ninguém. E é seu aniversário. Se eu não puder fazer isso por você… Quer saber? Vou te trazer para almoçar aqui o resto da semana.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Se Eu Fosse Uma Rosa - Capítulo 01

Sou uma pessoa que gosta muito de imaginar como a vida seria caso algo fosse diferente; se eu fosse outra pessoa, ou um objeto, por exemplo. Em meu último devaneio, acabei sonhando que eu era uma rosa. Um botão de rosa, na verdade.
Eu estava em um vaso muito grande, com várias outras flores ao meu redor. Não passava de um pontinho vermelho em uma confusão de cores e cheiros. Percebi que esse vaso estava em um balcão de um restaurante quando vi mesas e cadeiras em todos os lugares. Reconheci minha mãe, uma violeta muito bonita, em uma das mesas próximas, e meu pai, uma candeia que enfeitava uma parede por perto. Sei o que você está pensando. Como uma rosa pode ser filha de uma violeta e um lampião velho? Também não sei, simplesmente foi isso o que sonhei.
O restaurante era muito bonito, chique, mas ao mesmo tempo simples e aconchegante. Parecia que faltavam apenas alguns minutos para abrirem, pois garçons iam de um lado para o outro tirando as cadeiras de cima das mesas, colocando mais copos no bar; era possível ouvir o barulho de panelas na cozinha e cozinheiros pedindo mais orégano, salsinha e outros temperos.
Além disso, as flores que me rodeavam erguiam suas pétalas com orgulho, deixando-as mais coloridas, e também exalavam um perfume mais forte.
Um lírio e um narciso me olhavam com desprezo. ‘Como eles podem colocar uma flor assim, tão sem-graça, no mesmo vaso que eu, uma flor tão bonita, única? É um insulto a minha beleza!’ ouvi um deles dizendo. Pouco me importei com isso. Eu sabia que bastava um pouco mais de tempo e iria desabrochar, me tornar uma flor tão bonita quanto eles.
O restaurante abriu e ainda assim as mesas perto de mim e o balcão continuavam vazios. Ou alguém tinha reservado aquela área, ou para se sentar nas mesas dali era cobrada uma quantia maior. Digo isso porque eu sabia que a parte do restaurante que ficava fora do meu campo de visão estava cheia, pois o som de talheres batendo nos pratos e conversas chegavam até mim.