domingo, 21 de julho de 2013

Segredos, Conflitos e Amor - Cap. 35

            Deitada na cama, Maria estava pensando no que tinha acontecido. Ela olhou para o lado, viu seu celular e decidiu ligar para Calina, desabafar. O problema era que seu cérebro a mandava fazer isso, mas seus dedos não o obedeciam. 
Tecla após tecla, ligaram para Sasha. Três toques depois, sua voz surgiu do outro lado da linha.
            — Alô?
            — Oi Sasha…
            — Maria? Você ta bem?
           — Eu briguei com a Alice, esqueceu? Queria que eu tivesse como?
        — Nervosa. Não triste, com esse nó aí na garganta. — era impossível esconder alguma coisa dele — Vai, me conta o que aconteceu.
            — Bobeira minha, eu acho. Liguei mais pra ouvir a voz de alguém.
            — Ah, sei. Você não vive sem mim, essa é a verdade! — ele riu — Mas falando sério, você sabe que pode contar comigo pra tudo, eu te amo. — “isso de novo?” Maria pensou — Assim como a Calina e o Rafa. Amor de amigo só perde pra amor de mãe, sabia? Ainda mais a gente, que se conhece desde sempre.
            Amor de amigo… Maria sentiu um aperto no coração a ouvir isso e a partir daquele momento se convenceu de que não poderia mais negar que gostava de Sasha. Mas se a recíproca era verdadeira, isso era outra história.
            — Sasha, vou desligar. Precisava ter ligado pra minha mãe meia hora atrás.
            — Cansou de ouvir a voz de alguém, foi?
            — Nossa, como você é engraçado… é por isso que eu te amo. Tchau, beijo.
            — Tchau. Mas, espera, fala de novo?
            — Falar o quê?
            — Que me ama.
            — Te amo.  
            — Também te amo. Tchau, linda.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Dois Anos de Amor

Eu te amo… amo muito.
Amo como Luna ama pudim.
Amo como Dobby ama meias.
Amo como Harry ama quadribol.
Amo como Hagrid ama criaturas mágicas perigosíssimas.
Amo como Fred e George amam pregar peças.
Amo como Molly ama sua família.
Amo como Arthur ama os trouxas.
Amo como Dumbledore ama sorvete de limão.
Amo como Hermione ama livros.
Amo como Ron ama sapos de chocolate.
Amo como Voldemort ama suas horcruxes.
Amo como Bellatrix ama Voldemort.
Amo como Valter e Petúnia amam Duda.
Amo como Tonks ama Lupin.
Amo como Snape ama Lily.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Amor Inocente

E naquele momento em que te vi, senti uma coisinha diferente aqui no meu peito, que ainda não sabia dizer o que era. Mas eu sabia que precisava chamar sua atenção. O problema era que não importava o quanto eu me esforçasse, ou o que eu fizesse, você parecia não perceber nada disso. Não vou dizer que meus métodos eram dos melhores, porque hoje eu vejo como eles deviam ser interpretados por você, como eram bobos. Me afastar de repente, não te tratar como tratava os outros – mesmo que isso significasse ser um pouco mais rude - , fazer coisas que te irritavam, te evitar de vez em quando. E tudo isso só para ver se você sentiria minha falta. Nunca sentiu. Ou pelo menos nunca deixou isso claro.
Me incomodava demais te ver quase sempre e não poder explicar por que minhas bochechas ficavam vermelhas quando você sorria para mim, ou quando eu ouvia meu nome saindo da sua boca. Era pior ainda quando você acenava, mesmo que não fosse para mim, indo embora; eu sentia que tinha engolido um pote de sorvete inteiro de uma só vez, tamanho era o frio que se instalava no meu pobre estômago.
Ainda me lembro do dia do primeiro amigo secreto que fizemos. Eu tirei meu melhor amigo, que tirou você, que tirou aquela garotinha esquisita, que me tirou. Passei quase uma semana me perguntando por que diabos vocês não tinham trocado os papeizinhos; não custaria nada e eu ainda poderia te abraçar, ao invés de ver meu amigo fazendo isso. E até hoje eu tenho a foto que insistiram em tirar de mim com a garotinha, me olhando toda sorridente enquanto eu mal conseguia disfarçar a decepção. Malditos papeizinhos de amigo secreto... tantas outras pessoas com os nomes ali e mesmo assim esse círculo chato se formou.
Lembro também que uma semana depois, já nas férias, fui ao parquinho perto de casa brincar e vi sua mãe e você saindo da padaria logo em frente. Aquelas trancinhas no seu cabelo e aquele vestido florido te irritavam tanto que seu bico era enorme. Mas aí sua mãe apontou para a praça, e um sorriso apareceu entre as suas orelhas recém-furadas… sim, eu tinha percebido. Você saiu correndo e eu estava crente que viria falar comigo, até te ver desviar um pouco e ir até o outro lado do gira-gira para falar com o meu melhor amigo. Ele de novo.
Nessa hora eu senti tanta coisa ao mesmo tempo… parecia que eu tinha brincado de pega-pega por uma hora sem parar, de tanto que ofegava; meu peito doía, mas era uma dor muito maior do que aquela que senti quando me joguei de barriga na piscina do meu tio; minhas mãos gelaram e eu comecei a chorar. Chorei quase tanto quanto da vez em que meu primo quebrou meu Max Steel que eu tinha ganhado no mesmo dia. Fiquei tão triste que não quis mais brincar. Fui até o banco em que minha mãe estava sentada me esperando e pedi colo. Ela nunca me perguntou nada sobre aquele dia.
Não posso afirmar que eu te amava, afinal, não sei se crianças sabem realmente o que é esse tipo de amor. Só posso dizer que você foi a primeira a me machucar desse jeito. E mesmo assim, vou sempre me lembrar daquela garotinha linda, que odiava prender o cabelo, com muito carinho e um sorriso no rosto.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Segredos, Conflitos e Amor - Cap. 34

            — É, sei sim. Agora você vai começar com aquele discurso: “eu, a Ca e o Sasha só fazemos isso porque te amamos” e blábláblá. Nem começa.
            — Eu to falando sério.
            — E eu não to? Ah, não me deixa mais irritada do que a Alice deixou.
            Antes de começar, ele deu uma risada.
            — Eu to querendo te dizer que eu te amo. De verdade.
            Completamente sem reação, tudo o que Maria fez foi continuar olhando para aqueles olhos cor de mel que pareciam estar lendo todos os seus pensamentos naquele momento. Como se quisesse acordar de um pesadelo, ela fechou os olhos e sacudiu a cabeça para os lados.
            — Rafa, para com essa brincadeira.
            — Não é brincadeira… — aos poucos seu rosto se aproximava do dela. — E eu sei que você já percebeu isso lá na escola…
        E os dois se beijaram. Maria não se afastou e não relutou em nenhum momento. Mas ela não conseguia entender o motivo de só pensar em Sasha naquela hora, de querer que aquele beijo fosse com ele. Os dois eram só amigos…
         Depois de um tempo que pareceu uma eternidade para ela e uma fração de segundo para Rafael, Maria se soltou do abraço dele e foi correndo até o portão. Já do lado de dentro, ela deu um sorriso tímido e com certo esforço, sua voz saiu:
            — Obrigada por se preocupar comigo…
       E assim ela entrou, meio desnorteada, sem saber se o seu coração acelerado indicava alegria, desespero ou mesmo medo de algo que não estava nem um pouco claro em sua mente.
          Rafael, ainda parado em frente ao portão, se sentia tão feliz que poderia sair pulando pela rua. Sua vontade era de ir até a casa de Sasha e lhe contar o que tinha acontecido, de dizer: “eu consegui. Conquistei a Maria antes de você.” Mas isso pareceu muito infantil. Ele simplesmente deu meia volta e foi embora.  

domingo, 7 de julho de 2013

Aula de Inglês

Jana chegou cansada em casa, e mal trancou a porta, já foi jogando bolsa e blusa no sofá, tirando o All Star do pé de qualquer jeito e se arrastou até o quarto, onde se jogou na cama.
— Ainda bem que a mamãe não ta em casa hoje… não vai me obrigar a levantar e ir almoçar.
O celular tocou.
— 6449… não to reconhecendo… quem será? Alô?
— Jana?
— Quem é?
— Ah, maus aê.  É o Daniel, do inglês.
Um arrepio percorreu a espinha de Janaína.
— Ahn, oi. Tudo bem com você?
— Tudo, e você?
— Bem.
— Jana, você sabe me dizer qual é a lição que a gente tem que entregar hoje?
— Unidade cinco, se não me engano. Mais o texto.
— Putz, ferrou. Não comecei nenhum dos dois e não entendi nada da última unidade…
— Quer ajuda?
— Óbvio que sim!
— Você consegue chegar lá na escola daqui a quanto tempo?
— Mais ou menos uma hora.
— Me encontra lá que te sou umas dicas pra lição, pode ser?
— Opa, partindo aqui. Beijos, te vejo daqui a pouco.
Ela desligou o celular e apertou o travesseiro contra o rosto.
— Ah, o que eu não faço por eles…
Levantou, calçou o tênis, pegou blusa, bolsa e uma bolacha para comer no caminho. Acabou chegando quinze minutos antes de Daniel.
— Nossa, você é rápida, hein? Achei que eu ainda ia ter tempo pra dar uma olhadinha no livro, sabe, só pra não fazer feio, pra você não achar que eu sou um completo ignorante. — ele riu.
— Não precisa me esconder uma coisa que eu já sei! Tá, brincadeiras a parte, o que você realmente não entendeu? E por favor, não diga ‘tudo’!
— Deixa eu ver… acho que principalmente aquele negócio de present perfect. Tipo, não peguei a estrutura, quando que eu uso isso, e por aí vai.
— Acho que seu caso tem solução, mas pra começar, não seria melhor se você sentasse?
— He, he, verdade. — ele puxou uma cadeira para perto de Janaína.
— Então, a estrutura não tem muito segredo, você vai usar have, ou has, depende da pessoa, mais o verbo no passado, se for regular. Se for irregular, você vai usar o past participle.
— Aquele da terceira coluna? — Daniel aproximou mais a cadeira.
— É, a terceira coluna que por acaso se chama past participle.
— Tá, parece que meu cérebro tá começando a entender. Então, sei lá, pra dar um exemplo, posso falar “I have swept my whole house” ou “She has fallen in love with the wrong guy”?
—Se eu não te conhecesse, ia dizer que você aprende muito rápido! Ou, quem sabe, que me chamou aqui só pra ficar olhando pra minha cara!
— É, né, quem sabe…
— Ahn, mas voltando à explicação, você também não entendeu quando usar, né?
— Isso. — mais uma vez, ele puxou a cadeira. Mas dessa vez ela encostou na cadeira de Janaína; esta, cada vez mais vermelha.
— Basicamente, é quando a frase não tem indicação de tempo, porque a ação é mais importante do que quando ela aconteceu. Ou também quando acabou de acontecer.
— Ah, é, tipo “I have just taken a shower”.
—Eu acho que eu vou embora! Você tá quase sabendo mais do que eu!
— Não, não vai não. Você é uma professora muito boa… — a mão dele ficou em cima da dela.
— Se isso for um elogio, eu agradeço.
— Ué, e tem como não ser?
— Vindo de você, qualquer coisa é possível!
— Tá, isso não pareceu elogio!
— Ui, ele se sentiu ofendido…
— Não muito. Sua voz melhora até uma ofensa.
— Daniel…
— Hum?
— Me desculpa ser, sei lá, direta demais, mas por acaso você tá dando em cima de mim?
Daniel arqueou a sobrancelha direita e sorriu.
— Achei que você nunca ia perceber… — ele se inclinou em direção a Janaína, que recuou um pouco.
— Você tá louco? E se passar alguém aqui?
— Tá todo mundo em aula. E não é segredo que a sala de estudos é mais vazia do que câmara de vácuo.
Janaína riu da piada patética e Daniel continuava se aproximando. Para não cair, ela já não podia mais se afastar, então tentava manter uma distância entre os dois colocando as mãos nos ombros dele, “empurrando”. Quando ela estava prestes a ceder, os lábios dos dois quase se tocando, uma terceira voz encheu a sala.
— Daniel!
Ele se virou para a porta, branco como lençol, com os olhos arregalados.
— Heloísa?!
— Eu… eu não acredito!
— Não, amor, espera…
— Amor?! Você tem namorada?
— Ele tinha namorada! Não quero mais nem olhar pra cara desse cretino!
Heloísa saiu pisando duro. Janaína estava boquiaberta e Daniel estacou no meio da sala.
— Idiota. — ela jogou tudo dentro da bolsa, que pendurou no ombro esquerdo.
— Jana…
— Sai da minha frente.
Ela deu um empurrão no garoto, que se desequilibrou e se apoiou na mesa. Janaína bateu na sala onde sua professora estava dando aula, entregou o que precisava e disse que não poderia ficar. Já na rua, uma depois da outra as lágrimas caíam.
— Idiota… idiota… eu sou muito idiota.

terça-feira, 2 de julho de 2013

O Português Agradece

Na minha época de escola eu era o típico CDF. Nerd, em termos atuais. Alguns anos atrás (desnecessário mencionar quantos exatamente), CDFs não eram esses caras queridinhos de hoje, que de tão amados ganharam série próprias na TV americana. CDF era aquele cara sentado na primeira carteira, com notas excelentes, pelo qual qualquer professor cairia de amores. Era o “engomadinho”, que gostava de tudo na mais perfeita ordem. Pois bem, eu era assim.
Hoje, analisando meu eu daquela época, chego à conclusão de que provavelmente eu tinha TOC, acompanhado de chatice aguda. Tenho pena de meus amigos, e ao mesmo tempo admiração imensurável. Eu era, e continuo sendo, insuportável; passar certo tempo ao meu lado não é para qualquer um. Ouvi da minha mãe que eu era tão chato que ela não sabia como pessoas ainda se aproximavam de mim. Carrego esta dúvida até hoje.
Agora que já apresentei meu defeito, saio em minha defesa: me chamam chato porque tenho mania de corrigir as pessoas. Se alguém diz “cardaço”, corrijo sutilmente, juro. “Largatixa”, “câmera dos deputados”, “iorgute”… Dou uma de joão-sem-braço e corrijo a palavra em minha resposta, porque gostaria de ser corrigido se falasse algo errado.
Imagine a situação: você e a garota por quem é apaixonado, em um diálogo entusiasmado quando você solta um maldito “quando eu era di menor” (você não sabe o quanto me dói escrever isso…). Ela te olha estranho, sorri amarelo e fica atenta a qualquer outro absurdo que saia da sua boca. E não venha me dizer que se ela realmente gostar de você, um “pequeno deslize” não fará diferença. Te garanto que seu conceito com a moça cairá alguns pontinhos.
E se o exemplo do encontro não foi o suficiente para te encorajar a falar corretamente, aqui vai um que fará isso. Você, na entrevista do emprego dos seus sonhos, quando o entrevistador derruba algumas coisas da mesa. Você o ajuda a juntá-las e entrega um bloquinho para ele, com as seguintes palavras: “sua cardineta.”. Esqueça o cargo, amigo. Levante-se e vá para casa. Ninguém quer a imagem de sua empresa associada a alguém que fala “cardineta”.
Os absurdos não param por aí. Ainda temos o clássico “estou soado” – você por acaso é um sino para soar? Não? Então você sua, com “u” mesmo. Já ouvi “penicite”, ao invés de “apendicite”; “ededron”, “encharpe”, “cristal esvairóvski”… (é Swarovski, por favor. Você não gostaria que errassem seu nome, não é?)
Não me importo muito com os pleonasmos como “fato real”, “elo de ligação”, “cego dos olhos” porque nem eu escapo de alguns deles (hoje mesmo soltei um “certeza absoluta”). Mas isso não os torna menos desagradáveis.

Não fale errado só porque todos o fazem. Está mais do que na hora de se redimir com a língua que aceitou tantas agressões ao longo de anos. O Português agradece.