terça-feira, 30 de abril de 2013

Prato de Comida


Naquele dia, Márcio acordou radiante; era o primeiro dia no emprego novo, depois de três meses desempregado, preocupado com o sustento do seu garoto, sua caçula e sua mulher. Estela trabalhava de manicure e cabeleireira, mas não ganhava o suficiente para manter a casa. O marido havia conseguido aquela vaga na siderúrgica em ótima hora. Plano de saúde, carteira assinada e bom salário. Era tudo o que pediam a Deus.
O ônibus da empresa passaria no ponto as quinze para as sete. Dez minutos antes, Márcio já o estava esperando, parado, sozinho na rua. Quando o barulho do motor despontou na rua deserta, o coração disparou. Ele entrou, meia dúzia de peões já estavam sentados, dormindo. Márcio fechou os olhos e tentou fazer o mesmo, mas foi impossível. Muito simples, assim como ele, todos os operários que entravam no ônibus o cumprimentavam, e Valdir fez questão de se sentar ao seu lado. Se apresentou e disse para pedir ajuda sempre que precisasse. Apesar de não demonstrar, Márcio suspirou aliviado.
No período da manhã não teve nenhuma tarefa propriamente dita. Seu supervisor o orientou com relação às suas tarefas e deixou implícitas algumas ideias da hierarquia ali, para quem trabalhava em chão de fábrica. Todos eram peões, mas anos de casa faziam diferença de vez em quando.
Hora do almoço. Márcio entrou no refeitório sem acreditar no que via; executivos engravatados, secretárias com roupas alinhadas, faxineiras, operários, todos juntos, na mesma fila esperando para pegar a mesma comida. Eram tratados como iguais, afinal. Com o prato já cheio, saiu da fila e viu Valdir acenando, indicando um lugar vazio na mesa.
—Nossa Senhora, garoto! — Valdir arregalou os olhos para o prato de Márcio, que ruborizou — Vai com calma, podemos repetir se quisermos.
— É que… — ele tomou um gole de suco para ajudar a comida a descer — preciso comer aqui, encher o bucho. Tenho que deixar a comida de casa para os meus pequenos.

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