sábado, 4 de julho de 2015

Sou Mais Do Que Minha Pele

Eu disse que voltaria, não disse?
Mas infelizmente o que me levou a escrever hoje não foi uma súbita inspiração nem uma alegria que preciso compartilhar com vocês; muito pelo contrário.
Minha amiga deu um like nesse vídeo e ele acabou aparecendo pra mim, e duas coisas me fizeram clicar nele: falta do que fazer (hehe) e uns bons nove anos de convivência com a acne.
Comecei a ter espinhas lá pelos dez, onze anos, ou seja, bem antes de todos os meus colegas. Eu tentava me "consolar" pensando que quando eles começassem a passar pelo que eu estava passando, minha pele estaria voltando a ser o que era antes. Mas isso não aconteceu. Pra piorar minha situação, apenas os garotos - e ainda assim nem todos - ficaram com o rosto coberto de espinhas. Nenhuma menina teve acne; todas tinham pele de pêssego. 
Muita gente me olhava com nojinho e de vez em quando surgia um comentário: "espinha é coisa de gente porca, que não lava o rosto". Pena que naquela época eu era tímida demais pra responder: "olha, minha querida, se isso fosse verdade eu agradeceria. Porque aí toda a rotina que tenho faria minha pele ser mais lisa do que bumbum de bebê". Sério, meus pais gastaram uma pequena fortuna com dermatologistas, ácido salicílico, peróxido de benzoíla, sabonetes e protetores solares feitos em farmácias de manipulação. Até Roacutan eu tomei. Mas as espinhas continuavam ali.
Com dezenove anos eu voltei a ter uma pele mais ou menos normal. Algumas - muitas - marquinhas pelo rosto, mas sem aquela vermelhidão dolorida de antes. A ironia foi que isso só aconteceu depois que eu parei de passar milhares de produtos antiacne, de tão cansada que eu estava de não ver resultado algum.
Eu vi boa parte da minha adolescência resumida nos três minutos do vídeo. Todos os comentários maldosos e completamente desnecessários sobre minha pele, as brincadeiras ridículas que alguns faziam comigo e outros me diziam pra relevar por ser "coisa de adolescente" e os sentimentos horríveis que essas coisas causavam em mim. Algumas pessoas realmente não entendem o sofrimento que é ver seu rosto tomado por bolas vermelhas, doloridas e inflamadas. E não contentes em não entender a situação, fazem questão de deixá-la ainda pior. 
Alguém poderia, por favor, me explicar a graça de ofender uma pessoa com acne? Ou então por que ter acne te faz menos digno de respeito do que uma pessoa com a "pele boa"? E o que faz alguns pensarem que podem postar comentários como "não consigo nem olhar para ela", "o que há de errado com o rosto dela?", "nojento", "eca" na foto de outra pessoa? 
É comum para quem tem acne ter uma autoestima que já não é grande coisa. Agora, imagine o quanto essa autoestima despenca depois de ouvir "seu rosto é repugnante". Ou melhor, nem precisa imaginar. No próprio vídeo aparecem comentários de pessoas que sofrem com isso: 
  • a acne me faz sentir como se eu não valesse nada
  • ela me faz chorar
  • eu tinha vontade de me matar
  • sofro bullying por causa da minha pele
  • usar maquiagem me faz sentir melhor
  • ter acne me deixa deprimido
É sério que estamos fazendo com que as pessoas precisem se esconder atrás de bases e corretivos para se sentirem bem, se sentirem aceitas? Também é sério que estamos dando tanto valor para a beleza externa que a suposta falta dela faz com que pessoas sintam que não têm valor? Não é possível que não enxerguemos o quão errado é tudo isso.
Mas dois comentários me fizeram sorrir um pouquinho. 
"Sou mais do que minha pele"
"Estou aprendendo a me amar"
Se eu pudesse, falaria isso para todos que estão passando pelo que eu passei. Nós precisamos saber que só nós mesmos determinamos o que somos, o quanto valemos e que se nos amamos como somos, não importa o que dizem de nós. 
Podem me chamar de feia, dizer que minha pele é nojenta. Eu sei que sou linda. E sei que um dia as espinhas vão embora. Já o seu caráter...


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