segunda-feira, 28 de junho de 2021

É Só Passado

- Só vou tomar um banho e a gente já sai, tá?
Natália virou-se pronta para se atirar na cama, mas Danilo a segurou pelo braço e puxou-a pra si.
- Achou que ia escapar sem um beijo?
- Nossa, que carência, hein?
Um pouco sem graça com a brincadeira da namorada, ele sorriu e deu um beijo rápido nela, antes de sumir atrás da porta do banheiro. E ela finalmente desabou na cama. Não se importou muito com o fato de que estava amassando a blusa e enchendo seus jeans com pelinhos do cobertor, nisso ela dava um jeito depois. Queria apenas dormir por meia horinha. Danilo não ficaria pronto antes de disso, mesmo.
Bastou Natália fechar os olhos para seu celular a incomodar com uma notificação. Muito a contra gosto, ela acendeu a tela para ver o que sua chefe queria àquela hora, mas em vez de uma mensagem de trabalho, viu o ícone do Instagram seguido dos dizeres "ribeiro.carlos começou a seguir você". Ela parou por alguns segundos, olhos paralisados na tela e o cenho um pouco franzido, antes de abrir o aplicativo para ver o perfil de ribeiro.carlos.
Assim que a primeira foto carregou, ela confirmou: era Carlos Delvigno Ribeiro, o Garça, seu antigo colega de escola. Não se falavam havia anos e nem sequer eram amigos no Facebook, então como raios ele a havia encontrado?  Tudo bem que o username de Natália era bem fácil e óbvio, nome e o único sobrenome, sem nem um pontinho entre eles, mas porque o Garça a procuraria no Instagram? Será que tinha se encontrado com alguém da escola e decidido retomar contato com todo mundo? Ou alguma lembrança de origem aleatória? Enfim, isso não importava, era o Garça. E agora ele a seguia numa rede social.
Costumavam ser grades amigos, do tipo que podiam passar horas ininterruptas conversando, sobre qualquer coisa que brotasse na imaginação de um dos dois. Riam um do outro e de si mesmos, sem medo nenhum de passar vergonha. Era uma amizade fácil, confortável, que não causava dor de cabeça. Exceto pelo fato de que Natália ficava um pouco frustrada por ser só isso. Só amizade. Mas preferia continuar com aquele amigo pra todas as horas, todos os dias, do que se arriscar para ter um namorado. Ela até desconfiava de que ele sentia o mesmo, os amigos dele sempre faziam brincadeiras sobre a proximidade dos dois, e nunca de uma forma maldosa, talvez como se quisessem avisá-la de algo. Só que isso deveria ser coisa da cabeça dela, onde já se viu, o Garça gostar de uma menina que nem ela?
Carlos Delvigno Ribeiro recebera o apelido de Garça porque era impossível não reparar no comprimento de suas pernas. Não era magro e nem alto o suficiente para justificar pernas tão longas. Sempre precisava segurar o passo quando andava com amigos, ganhava todas as corridas das quais participava e tornava a vida de quem decidia se sentar na sua frente na sala de aula um inferno. Não era um exemplo de beleza, mas de tão simpático e bem humorado conquistava todas as garotas. Eram raros os casos em que, depois de uma semana de convivência, a menina não sentia no mínimo uma grande simpatia por ele.
Mas todo esse carisma desapareceu de uma hora para outra nas férias de julho do 1º ano do ensino médio. Já há algum tempo, os traços sem sal e infantis de Carlos estavam dando lugar a um rosto de rapaz bonito. E a natação, recomendação médica, transformou seu corpo ligeiramente rechonchudo em algo, digamos, mais desejável esteticamente. Assim, as garotas passaram a achar mais interessante olhar para ele do que conversar com ele. E lá se foi a simpatia por água abaixo, levando com ela a amizade com Natália, pois uma constante companhia feminina quando se está querendo conquistar garotas não pode ser considerada uma estratégia muito boa.
Não se falaram mais. Simples assim. Natália se lembrava muito bem de ter ouvido Carlos comentar com um amigo: "aquilo era amizade de criança. Sabe essas coisas idiotas que criança faz? Então. Ela precisa se tocar disso e sair do meu pé". Decidiu nem gastar saliva respondendo àquilo e se conformou com o fim da amizade. "Antes assim do que continuar convivendo com alguém desse tipo".
Não admitia para ninguém, nem para si mesma, o quanto aquilo doía, o quanto sentia todos os seus órgãos serem picotados em pedacinhos minúsculos quando encontrava Carlos. E se não admitia isso, também não admitiria que doía não apenas pela amizade, mas principalmente por ser o fracasso do seu primeiro amor. Doía por se afastarem daquele jeito sem ela saber se chegou a ter alguma chance com ele, por menor que fosse. Doía porque ela sabia que apesar da atitude de Carlos, ela se lembraria dele para sempre e se tornar indiferente a ele seria impossível.
Olhando as fotos no Instagram confirmou isso. Aquele rosto, ligeiramente mais velho, ainda provocava alguma coisa nela. Não era amor, não era raiva, não era algo forte, não era nada que ela soubesse explicar. Era só... alguma coisa, que se remexia de uma lado para o outro dentro dela, querendo sair, mas não sabendo que forma tomar. Olhar para Carlos fazia um sorriso passar pelo seu rosto, muito rápido, e também fazia com que ela sentisse uma pontinha de inveja das garotas com quem ele aparecia abraçado nas fotos. Talvez pudesse ter sido ela...
Neste momento, Danilo saiu do banheiro já pronto para sair. Simples como sempre, o sorriso sem motivo algum de sempre e envolto pela névoa de vapor do chuveiro. Natália não pode evitar o aparecimento de um pequeno espaço entre seus lábios e o olhar meio abobado sobre o namorado.
- Que foi? O cabelo tá feio assim? É melhor eu passar gel?
Ela riu e se levantou num salto, nem percebendo que o celular tinha caído no chão, e abraçou a cintura do namorado.
- Tá lindo, amor.
- Você acha que posso confiar em um pessoa que me chama de lindo até quando eu acabei de acordar?
- Acho que você pode confiar em uma pessoa que te ama. Só isso.

Natália já não tinha a mínima ideia do que estivera vendo na última meia hora. 

sábado, 4 de julho de 2015

Sou Mais Do Que Minha Pele

Eu disse que voltaria, não disse?
Mas infelizmente o que me levou a escrever hoje não foi uma súbita inspiração nem uma alegria que preciso compartilhar com vocês; muito pelo contrário.
Minha amiga deu um like nesse vídeo e ele acabou aparecendo pra mim, e duas coisas me fizeram clicar nele: falta do que fazer (hehe) e uns bons nove anos de convivência com a acne.
Comecei a ter espinhas lá pelos dez, onze anos, ou seja, bem antes de todos os meus colegas. Eu tentava me "consolar" pensando que quando eles começassem a passar pelo que eu estava passando, minha pele estaria voltando a ser o que era antes. Mas isso não aconteceu. Pra piorar minha situação, apenas os garotos - e ainda assim nem todos - ficaram com o rosto coberto de espinhas. Nenhuma menina teve acne; todas tinham pele de pêssego. 
Muita gente me olhava com nojinho e de vez em quando surgia um comentário: "espinha é coisa de gente porca, que não lava o rosto". Pena que naquela época eu era tímida demais pra responder: "olha, minha querida, se isso fosse verdade eu agradeceria. Porque aí toda a rotina que tenho faria minha pele ser mais lisa do que bumbum de bebê". Sério, meus pais gastaram uma pequena fortuna com dermatologistas, ácido salicílico, peróxido de benzoíla, sabonetes e protetores solares feitos em farmácias de manipulação. Até Roacutan eu tomei. Mas as espinhas continuavam ali.
Com dezenove anos eu voltei a ter uma pele mais ou menos normal. Algumas - muitas - marquinhas pelo rosto, mas sem aquela vermelhidão dolorida de antes. A ironia foi que isso só aconteceu depois que eu parei de passar milhares de produtos antiacne, de tão cansada que eu estava de não ver resultado algum.
Eu vi boa parte da minha adolescência resumida nos três minutos do vídeo. Todos os comentários maldosos e completamente desnecessários sobre minha pele, as brincadeiras ridículas que alguns faziam comigo e outros me diziam pra relevar por ser "coisa de adolescente" e os sentimentos horríveis que essas coisas causavam em mim. Algumas pessoas realmente não entendem o sofrimento que é ver seu rosto tomado por bolas vermelhas, doloridas e inflamadas. E não contentes em não entender a situação, fazem questão de deixá-la ainda pior. 
Alguém poderia, por favor, me explicar a graça de ofender uma pessoa com acne? Ou então por que ter acne te faz menos digno de respeito do que uma pessoa com a "pele boa"? E o que faz alguns pensarem que podem postar comentários como "não consigo nem olhar para ela", "o que há de errado com o rosto dela?", "nojento", "eca" na foto de outra pessoa? 
É comum para quem tem acne ter uma autoestima que já não é grande coisa. Agora, imagine o quanto essa autoestima despenca depois de ouvir "seu rosto é repugnante". Ou melhor, nem precisa imaginar. No próprio vídeo aparecem comentários de pessoas que sofrem com isso: 
  • a acne me faz sentir como se eu não valesse nada
  • ela me faz chorar
  • eu tinha vontade de me matar
  • sofro bullying por causa da minha pele
  • usar maquiagem me faz sentir melhor
  • ter acne me deixa deprimido
É sério que estamos fazendo com que as pessoas precisem se esconder atrás de bases e corretivos para se sentirem bem, se sentirem aceitas? Também é sério que estamos dando tanto valor para a beleza externa que a suposta falta dela faz com que pessoas sintam que não têm valor? Não é possível que não enxerguemos o quão errado é tudo isso.
Mas dois comentários me fizeram sorrir um pouquinho. 
"Sou mais do que minha pele"
"Estou aprendendo a me amar"
Se eu pudesse, falaria isso para todos que estão passando pelo que eu passei. Nós precisamos saber que só nós mesmos determinamos o que somos, o quanto valemos e que se nos amamos como somos, não importa o que dizem de nós. 
Podem me chamar de feia, dizer que minha pele é nojenta. Eu sei que sou linda. E sei que um dia as espinhas vão embora. Já o seu caráter...


domingo, 28 de dezembro de 2014

Segredos, Conflitos e Amor - Cap. 43

Olá pessoas! Apareci hoje só para vocês não se magoarem muito comigo, dizendo que as postagens de 2014 acabaram em setembro hehe Bem, antes de mais nada, preciso comunicar algo que já devem ter percebido: postar está muito difícil. Escrever então... impossível. Esta é a última parte de SCA e não tenho nenhuma outra história pronta, que eu me lembre (talvez fuçando o computador dos meus pais eu ache alguma coisa). Então estou aqui para lhes dizer até logo! Não é adeus porque vou voltar algum dia, juro! hahaha Sinceramente espero que gostem do final de SCA, mesmo tendo demorado tanto para ser postado! Beijos! ;)

            — Pela hora já deva ter chegado em casa.
            — Exatamente. Na SUA casa. To aqui no portão.
            — Por que não falou logo? Eu vou ai abrir.
            — Não precisa. Sua mãe me deu uma cópia das chaves, lembra? Pra vir aqui conferir se a senhorita está bem de vez em quando.
            — E por que não entrou ainda?
            — To preparando uma surpresa. Daqui a pouco eu entro.
            Ele desligou, se sentou na calçada, pegou o estojo, o bilhete e começou a escrever. Dali a alguns minutos, bateu na porta do quarto.
            — Entra logo, Sasha.
            Por uma fresta na porta, o rosto dele apareceu.
            — É seguro entrar no mesmo recinto de uma louquinha desvairada?
            Antes que uma almofada o atingisse, ele fechou a porta. Mas entrou logo em seguida. Maria estava pálida, e abriu um sorriso quando o viu.
            — Você contou pra alguém?
            — Não, nem pra Calina. — ele se sentou na cama.
            — Perdi alguma coisa de interessante?
            — Não… mesmos assuntos de sempre, o mesmo blábláblá dos professores. Mas com certeza a sala tava muito mais sem-graça sem você lá.
            O coração de Maria dava pulos de alegria.
            — Mas qual é a surpresa que você tava preparando, afinal?
            — Ah, ta aqui.
            Ele puxou o bilhete do bolso da calça e entregou para Maria.
            — Mentira que você pegou isso do lixo…
            — Nem ta tão ruim assim, ainda mais depois das mudanças que eu fiz.
            Maria começou a buscar as tais “mudanças”. Viu que ele tinha coberto algumas manchas de sangue fazendo corações em cima e… ela mal podia acreditar no que estava vendo. A frase no rodapé da página não dizia mais a mesma coisa. Com algumas palavras riscadas, agora estava escrito: “ser seu namorado não vai ser fácil, vou ter que fazer sacrifícios como esse só pra te agradar! Mas no fim vai valer a pena, porque quando precisar de abraços e carinho você não vai poder me negar um favorzinho desses! Brincadeira… ah, só mais uma vez: TE AMO, namorada linda”. Incrédula, Maria levantou os olhos para Sasha.
            — Aceita?
      Ela pulou no pescoço dele, que estava explodindo de alegria por dentro. Rafael que o desculpasse, mas ele sim tinha conseguido conquistar o coração daquela garota linda. Com o rosto enterrado no pescoço de Sasha, Maria sentia aquele perfume, a melhor droga para o seu cérebro. Aquele perfume que a fazia esquecer do mundo, de todos os problemas que quase separaram os dois para sempre. Enquanto muitos sentiriam que poderiam morrer de amor naquela hora, ela queria viver. Viver de amor.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Esse é o Perigo

Meu celular apitou avisando que eu tinha uma nova mensagem. Nem precisei pensar para minha mão ir até ele com extrema rapidez e acender sua tela. Quando vi que era você, só consegui pensar “finalmente me respondeu!”, e depois de ler o que tinha escrito - uma frase nada especial - não pude evitar um suave curvamento dos meus lábios.
Foi aí que outro alarme apitou, mas dessa vez dentro da minha cabeça. Era como se gritasse no meu cérebro “alerta vermelho! Perigo à frente!”. Coloquei o celular sobre meu peito e fiquei mirando o teto na escuridão, um pouco atordoada com o que tinha acabado de acontecer, com o que eu tinha acabado de perceber.
Até aquele momento, você era só… você. Só alguém com quem eu tinha conversas agradáveis, que vez ou outra se baseavam em comentários ácidos sobre pessoas específicas. Só um conhecido que me dava conselhos em alguns momentos de leve desespero.
Sim, “conhecido”. Não ouso usar a palavra “colega”, muito menos “amigo”. Você não passava de uma pessoa que arrancava algumas gargalhadas de mim às custas de piadas ruins. Aliás, preciso lhe confessar: na maioria das vezes eu não ria das piadas em si, mas de quem as contava. Você se empolgava tanto que era difícil não achar graça.
Antes de eu sorrir por causa de uma mensagem banal, você era apenas o rapaz que me olhava estranho sempre que me encontrava escondida em um canto, lendo, ou que ria das caretas que eu fazia quando presenciava o comportamento histérico de amigas se encontrando. Você era o rapaz que me entendia ridiculamente bem mesmo me conhecendo pouco, talvez pelo excesso de características e gostos em comum.
Mais um apito do celular. Uma mensagem pouca coisa mais longa do que a última. “Acho que vc dormiu... falo demais msm /: boa noite!”.
Mais um sorriso meu.

Eu definitivamente estava em perigo. 

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Segredos, Conflitos e Amor - Cap. 42

            — Sasha você sabe por que a Maria faltou hoje?
            Impaciente, ele mal começou a frase e já estava saindo do banheiro.
            — Se você não sabe da sua namorada como é que eu vou saber?
            Rafael segurou Sasha pelo antebraço.
            — Namorada? Como assim?
            Sasha puxou o braço com força.
            — Sem essa, cara. Eu sei que você estão namorando.
            — Bem que eu queria dizem que sim, e você sabe disso. Mas a Maria não quer nada comigo. Mas afinal, você sabe ou não porque ela faltou hoje?
            — Não.
            Era quase impossível descrever o que Sasha estava sentindo naquela hora. Alívio, alegria por saber que ainda tinha chances com Maria; um pouco triste por saber que seu amigo também estava triste. Ele só tinha certeza de que queria que o último sinal tocasse, para poder finalmente falar com a única garota que ocupava sua mente há muito tempo.
            Parado no portão de Maria, ao invés de tocar a campainha, Sasha pegou o celular. Quatro toques depois, ouviu uma voz rouca.
            — Só você mesmo pra me tirar do repouso, né?
            — Eu também estou bem, obrigado por perguntar.
            — Não sei se o “também” pode ser usado nessa frase… eu to qualquer coisa menos bem.
         — Então agora você vai ficar ótima. Adivinha onde eu estou? — enquanto falava, Sasha reconheceu um papel que estava caindo do saco de lixo. O bilhete que tinha feito para Maria, com algumas gotas de sangue. Com certeza ela estava com ele na sexta-feira.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Quase Um Recomeço

Hm... três meses e meio sem aparecer. Que vergonha não? A pessoa que começa a escrever um blog deveria ter noção de que assumiu um compromisso, não acham? hahaha Brincadeiras a parte, daqui a pouco eu explico o motivo do sumiço. 
Quem lê o blog há um tempinho deve ter esbarrado com o texto campeão no quesito drama, "Não é Medo do Vestibular". Sim, eu estava surtando, à beira de um colapso nervoso, e tudo por causa de uma prova que - vamos continuar com o drama - poderia mudar minha vida. Ou melhor, um ano dela. E é por isso que eu falava na época e insisto em dizer isso hoje: eu odeio vestibular. A ideia de, em algumas horas, medir o conhecimento que uma pessoa adquiriu ao longo de anos me parece ridícula, completamente descabida. Eu adoraria ser uma daquelas pessoas que lidam bem com avaliações assim, mas faço parte do grupo que entra em pânico, chora e se descabela só de colocar o pé fora de casa, indo para a prova. E se fico assim no trajeto, vocês podem imaginar meu estado ao sentar e ficar frente a frente com o caderno de questões, não?
Felizmente, saí viva dessa experiência. E me saí bem, diga-se de passagem.
Justo no dia da divulgação dos aprovados, meu computador resolveu que não queria funcionar, me obrigando a usar a internet do celular, que, diga-se de passagem, também não estava em seus melhores dias. Quando o resultado foi publicado, eu tremia tanto que fechei a guia acidentalmente umas três vezes. Depois de uns cinco minutos sofrendo consegui abrir a tela e dar zoom. E lá estava meu nome. Eu não conseguia acreditar que o simples fato de ver meu nome em uma lista podia me deixar tão feliz. Já que estava com o celular na mão, liguei para o meu pai. Não sei dizer qual dos dois chorava mais.O que eu sei é que, uma semanas depois, no dia em que me mudei, eu era a única chorando no carro.
Eu sabia que a casa para a qual eu olhava nunca mais seria minha casa. Seria sempre a casa dos meus pais. Ainda que eu tivesse sonhado por muitos anos com o dia em que moraria sozinha, nunca tinha me passado pela cabeça que isso doeria tanto.
Ainda bem que o sofrimento durou só até o começo definitivo da minha vida universitária, que apesar de ser tranquila por enquanto - afinal, vida de bixo é fácil, convenhamos - , me exige tanta correria e ocupa tanto a minha mente que eu só conseguia lembrar de sentir saudade de casa nos fins de semana. E depois de um tempinho descobrindo todas as vantagens e perrengues de morar a centenas de quilômetros da minha mãe eu percebi que dificilmente vou querer voltar pra debaixo das asas dela. Afinal, usar as minhas é muito mais divertido.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Segredos, Conflitos e Amor - Cap. 41

Uhuuu, voltei! Pausa de 20 dias é aceitável? Espero que sim, porque daqui em diante não garanto nada semanal, não hahaha mas aproveitem mais um capítulo: 
            Sasha não se conformava com o fato de que Maria e Rafael estavam juntos. O pior era que isso era tudo o que se passava na sua cabeça há dois dias, e quando achava que tinha conseguido fugir do assunto, algo o lembrava dele de novo. Mas naquele momento ele perdeu a paciência, cansou de não fazer nada e decidiu ir conversar com Maria, dizer o que sentia, sem dar muita importância para as consequências. Trocou de roupa e foi até a casa dela.
            — Ué, a Maria esqueceu o portão aberto? — ele entrou e trancou o portão — A porta também?
            Sasha começou a ficar preocupado. “De novo não…” foi tudo o que pensou antes de sair pela casa chamando a amiga, até a encontrar na cozinha.
            A cena era a mesma de alguns meses antes. Maria estava sentada no chão, o rosto encharcado de lágrimas, um olhar vazio, com sangue escorrendo pelo braço esquerdo e uma faca na mão direita. Sem nenhuma palavra e agindo meio por impulso, Sasha tirou a camiseta e a amarrou bem apertada no pulso de Maria. Ele correu até o telefone, chamou uma ambulância e avisou a mãe de Maria. Quando voltou para perto da garota, ela o abraçou e voltou a chorar.
            — Ta tudo bem agora. Se acalma. Sua mãe e a ambulância já estão vindo.
            Os dois não se soltaram até que a mãe de Maria chegou gritando o nome da filha.
            Maria ficou bem, mas o médico recomendou que ela ficasse em casa por uma semana, para evitar qualquer tipo de estresse, e exigiu que ela voltasse a freqüentar o psicólogo.
            Na segunda-feira depois de tudo isso ninguém além de Sasha sabia o que tinha acontecido. Durante o intervalo, assim como alguns dias antes, ele foi para o banheiro, se apoiou na pia e ficou olhando para o espelho. Até que Rafael apareceu.