sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Pacote Empoeirado


Foi em um dia assim, sem nada de extraordinário, que meus sentimentos por você viraram do avesso, junto com o meu coração. Juntei tudo o que você tinha colocado nele, empacotei e joguei em um cantinho empoeirado da minha memória, porque não dava para jogar fora um período inteiro da minha vida por causa de uma pessoa que aquela altura não significava, não me causava mais nada. Ou são menos não deveria.
Eu tentei – veja bem, “tentei” – me manter indiferente a você, manter as coisas na mais completa normalidade todas as vezes que nossos amigos mencionavam seu nome ou quando os mais desavisados (ou maldosos mesmo) me perguntavam de você e dos seus planos mirabolantes para o futuro. O problema é que sempre que isso acontecia eu dava um sorriso amarelo e sentia meu coração, estômago, pulmão e até órgãos menos poéticos como fígado, rins e vísceras caindo em um abismo, se comprimindo uns contra os outros.
Eu me recusava a deletar do celular a música que você fez para mim. Na verdade, ainda me recuso. Posso até te odiar, mas a música é boa. Por que você a fez assim, caramba? Devia ter feito como sempre, deixado a poesia, as palavras bonitas e ritmadas, por minha conta. Você foi se meter a besta com elas e deu nisso, criou algo que, além de lindo, deixa qualquer poema que eu tenha feito parecendo coisa de criança em processo de alfabetização. Mas você teve seu castigo. Teve que agüentar minha voz desafinada repetindo os versos por várias semanas seguidas.
Quase tantas semanas quanto eu esperei para a poeira na minha memória assentar depois que arremessei o pacotinho de lembranças querendo que aterrissasse em algum lugar onde fosse difícil encontrá-lo. Todo aquele pó em suspensão me causou uma rinite que custou a passar, me obrigando a conviver com meu nariz entupido e olhos lacrimejando em excesso. Você ia rir de mim se me visse. Iria me chamar de boba. E diria outra vez que fui o melhor desvio de planos que passou pela sua vida… melhor empacotar tudo outra vez antes que a rinite volte. 

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