Naquela tarde, ainda na escola, o
celular de Calina tocou. Ela não pode evitar ficar um pouco surpresa com o nome
que aparecia na tela: Maria Ishii.
— Alô?
— Nossa, que frieza com a sua melhor
amiga! — “eu que o diga!” Calina pensou — Ca, eu PRECISO que você venha pra
minha casa AGORA! Eu tenho uma coisa muito, muito boa pra te mostrar!
— Que coisa?!
— Lembra daquele livro que a gente
não achava em lugar nenhum pra comprar?
— Não me diga que…
— Aham!
— Já to indo!
Enquanto colocava os cadernos na
mochila com pressa, Calina pensava se realmente deveria ir até a casa de Maria.
Ela queria muito ver o livro que tanto procuraram, mas seria estranho chegar lá
e fingir que nada tinha acontecido, sabendo que não tinha poupado a amiga de
várias críticas nas últimas conversas que teve com Alice. De qualquer forma,
colocou a mochila nas costas e disparou para fora da escola. Parada no portão,
tocou a campainha e segundos depois Maria apareceu saltitante.
— Pode ir entrando, ta lá em cima da
minha cama!
Como já era “da casa”, Calina jogou
a mochila no sofá e foi correndo até o quarto da amiga. E, em cima da cama,
estava a preciosidade, ainda com o cheiro de tinta fresca, a capa brilhante, as
letras douradas em alto relevo reluzindo sob a luz do sol que entrava pela
janela. Um sonho não seria tão bom.
— Onde você achou?!
— No shopping, tinham acabado de
receber. Dei sorte. E o melhor de tudo…
Maria levantou a capa, com tanto
cuidado que parecia estar abrindo um livro de duzentos anos. Logo na primeira
página, bem grande em tinta de esferográfica preta estava o autógrafo da
autora, que, aliás, era inglesa. Embaixo de seu nome, uma pequena dedicatória,
bem genérica: “for a very special,
Brazilian, fan…”.
Um arrepio subiu pela espinha de
Calina.
— Não é de verdade, né? Isso aí veio
impresso da gráfica, ela não encostou nesse livro…
— Sim, é de verdade; não, não veio
impresso da gráfica; sim, ela mesma autografou! Quando soube o sucesso do livro
aqui, ela fez questão de autografar 100 exemplares. Não é tão exclusivo, mas um
deles ta aqui, comigo!
As duas gritavam, histéricas. Por
sorte, não tinha mais ninguém na casa.
— Mas deve ter sido uma fortuna!
— Ah, nem foi tão caro. Mesmo com o
autógrafo, saiu pelo mesmo preço de um normal. E os elogios dos professores na
última reunião deram uma ajudinha também.
Calina, que estava de joelhos ao
lado da cama, se levantou como se tivesse levado um susto, deixando Maria de
olhos arregalados. Aquela frase era a única coisa que faltava para Calina
lembrar de tudo o que Alice tinha falado nos últimos tempos.
— Você ta bem, Ca? O que aconteceu?
— Quer saber o que aconteceu Maria?
Cansei. Cansei de viver na sua sombra.
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