sexta-feira, 12 de julho de 2013

Amor Inocente

E naquele momento em que te vi, senti uma coisinha diferente aqui no meu peito, que ainda não sabia dizer o que era. Mas eu sabia que precisava chamar sua atenção. O problema era que não importava o quanto eu me esforçasse, ou o que eu fizesse, você parecia não perceber nada disso. Não vou dizer que meus métodos eram dos melhores, porque hoje eu vejo como eles deviam ser interpretados por você, como eram bobos. Me afastar de repente, não te tratar como tratava os outros – mesmo que isso significasse ser um pouco mais rude - , fazer coisas que te irritavam, te evitar de vez em quando. E tudo isso só para ver se você sentiria minha falta. Nunca sentiu. Ou pelo menos nunca deixou isso claro.
Me incomodava demais te ver quase sempre e não poder explicar por que minhas bochechas ficavam vermelhas quando você sorria para mim, ou quando eu ouvia meu nome saindo da sua boca. Era pior ainda quando você acenava, mesmo que não fosse para mim, indo embora; eu sentia que tinha engolido um pote de sorvete inteiro de uma só vez, tamanho era o frio que se instalava no meu pobre estômago.
Ainda me lembro do dia do primeiro amigo secreto que fizemos. Eu tirei meu melhor amigo, que tirou você, que tirou aquela garotinha esquisita, que me tirou. Passei quase uma semana me perguntando por que diabos vocês não tinham trocado os papeizinhos; não custaria nada e eu ainda poderia te abraçar, ao invés de ver meu amigo fazendo isso. E até hoje eu tenho a foto que insistiram em tirar de mim com a garotinha, me olhando toda sorridente enquanto eu mal conseguia disfarçar a decepção. Malditos papeizinhos de amigo secreto... tantas outras pessoas com os nomes ali e mesmo assim esse círculo chato se formou.
Lembro também que uma semana depois, já nas férias, fui ao parquinho perto de casa brincar e vi sua mãe e você saindo da padaria logo em frente. Aquelas trancinhas no seu cabelo e aquele vestido florido te irritavam tanto que seu bico era enorme. Mas aí sua mãe apontou para a praça, e um sorriso apareceu entre as suas orelhas recém-furadas… sim, eu tinha percebido. Você saiu correndo e eu estava crente que viria falar comigo, até te ver desviar um pouco e ir até o outro lado do gira-gira para falar com o meu melhor amigo. Ele de novo.
Nessa hora eu senti tanta coisa ao mesmo tempo… parecia que eu tinha brincado de pega-pega por uma hora sem parar, de tanto que ofegava; meu peito doía, mas era uma dor muito maior do que aquela que senti quando me joguei de barriga na piscina do meu tio; minhas mãos gelaram e eu comecei a chorar. Chorei quase tanto quanto da vez em que meu primo quebrou meu Max Steel que eu tinha ganhado no mesmo dia. Fiquei tão triste que não quis mais brincar. Fui até o banco em que minha mãe estava sentada me esperando e pedi colo. Ela nunca me perguntou nada sobre aquele dia.
Não posso afirmar que eu te amava, afinal, não sei se crianças sabem realmente o que é esse tipo de amor. Só posso dizer que você foi a primeira a me machucar desse jeito. E mesmo assim, vou sempre me lembrar daquela garotinha linda, que odiava prender o cabelo, com muito carinho e um sorriso no rosto.

Um comentário:

  1. Nossa Cass Kock essa é uma história tão fofa e tão triste ao mesmo tempo... E que amigo fura olho, eu quebraria todos os bonecos dele.

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